- Valor Econômico
Empresas têm bons resultados e juro é baixo, diz Templeton
Exagero ou experiência acumulada, o bombardeio orquestrado por Estados Unidos, Reino Unido e França à Síria pode ressuscitar a insegurança da Guerra Fria, afirmaram especialistas após o lançamento de 105 mísseis contra três instalações de armas químicas naquele país.
O Pentágono diz que não houve vítimas e os líderes ocidentais indicam que não haverá outros ataques. A Rússia, que na primeira hora avisou aos EUA que deveriam esperar por algum tipo de retaliação, passa a ser observada com mais atenção. A tolerância de Vladimir Putin com o Ocidente pode ter data de validade: 15 de julho, quando termina a Copa do Mundo.
O risco de um conflito armado levantar o Oriente Médio afetou o petróleo na madrugada de sábado. No domingo, as forças armadas sírias atacaram os rebeldes. Essa ação mostrou que o presidente Bashar al-Assad não se intimidou com o bombardeio.
Na sexta-feira, quando aviões dos três países iniciaram o bombardeio, o mercado brasileiro estava fechado, após uma semana tensa com a prisão do ex-presidente Lula e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de sequer analisar o pedido de habeas corpus de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma, que segue em prisão preventiva há quase dois anos.
Palocci conhece as relações estabelecidas pelos governos petistas com políticos, empresas, bancos e outros países. E o mercado prefere nem pensar na possibilidade de Palocci estar negociando uma delação.
A semana terminou em expectativa com a posição do STF que decide na terça-feira se acata ou não denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Aécio Neves que teria pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da J&F, e tentado atrapalhar o andamento da Operação Lava-Jato.
O resultado da pesquisa Datafolha de intenção de voto para a Presidência na eleição de outubro - outra expectativa do mercado -- foi publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" neste domingo. Lula ainda é o vitorioso no pleito com grande vantagem em segundo turno. Jair Bolsonaro segue na segunda posição. Marina Silva está no encalço de Bolsonaro no cenário que exclui Lula. A ex-senadora e Ciro Gomes são os pré-candidatos mais beneficiados com a distribuição dos votos de Lula.
Geraldo Alckmin, do PSDB - visto pelo mercado financeiro como o representante ideal de centro-esquerda nas eleições - não atrai votos. E corre o risco de dividir o seu eleitorado com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que ainda não lançou sua candidatura.
"Parece que acabou a calmaria garantida pelo ambiente externo. Por seu turno, o ambiente interno é incrivelmente ruim. Os próximos meses serão, muito provavelmente, difíceis para os mercados. Mais cedo do que tarde, isso vai aparecer no setor real. Pode ser que a economia brasileira venha a ter, de fato, mais um voo de galinha obesa. Bem baixinho", disse à coluna uma fonte do governo que prefere manter o anonimato.
Nos últimos dias, grandes bancos reduziram à metade projeções para o resultado do PIB do primeiro trimestre. A revisão reflete indicadores mais fracos, mas não uma tragédia. Na prática, as instituições apontam para uma recuperação ainda mais gradual do que a inicialmente esperada.
"Indicadores de atividade abaixo das expectativas não mudam a tendência de recuperação. Projeções de expansão do PIB vinham em torno de 2,9% para 2018 e passam a 2,6% ou 2,7%. E isso não muda nada", afirma o economista Frederico Sampaio, vice-presidente e diretor de renda variável da corretora Franklin Templeton, sem demonstrar inquietação com o cenário externo. "Não importa o cenário que seja traçado para o mercado internacional. Oscilações existirão sempre, mas o atual pano de fundo é muito positivo. O juro está em 6%, a inflação é baixa e as empresas apresentam bons resultados."
Em entrevista à coluna, Sampaio e o diretor de renda fixa da Templeton, Rodrigo Borges, traçaram um cenário favorável aos mercados. O especialista em ações está otimista com a bolsa brasileira: "Saímos de um cenário caótico, produto da depressão de dois anos e estamos retomando. Menos rápido do que gostaríamos, mas estamos voltando à normalidade e as empresas estão entregando expansão de lucro muito saudável. E não vejo mudança nesse cenário. As empresas entregaram crescimento de lucro de 36% no quarto trimestre do ano passado na comparação com o anterior. Esse resultado é muito bom e muito forte. Em linha com o esperado pelo mercado. "
Sampaio explica que de todas as empresas que compõem o Ibovespa, metade apresentou resultados abaixo do esperado, o que significa dizer 5% abaixo da média das expectativas. A outra metade das empresas reportou resultados em linha ou acima do esperado. "No absoluto, o resultado foi excelente; no relativo não foi tão bom", diz.
Borges avalia que o Brasil está em uma condição favorável quanto aos juros e inflação "ainda que não se faça nada". Contudo, ele alerta para dúvidas que persistem. "Em alguns países que passaram por processos recessivos, semelhantes ao do Brasil, a inflação mudou de patamar. A recessão funcionou nesses países como um freio de arrumação. Isso vai acontecer por aqui? Não temos certeza. No atual cenário pós-caos, as condições hoje alcançadas se sustentarão? Também não sabemos. "
Borges chama atenção para a importância da reforma da Previdência na elaboração de cenários alternativos para o país. Reconhece que essa reforma hoje não é consenso, "mas é uma ideia muito mais disseminada, o que já é um alento. Mas antes de chegarmos a ela, teremos as eleições e o resultado dirá se vamos tirar proveito da crise e avançar ou vamos voltar a ser o que sempre fomos, um país sobrevivente".
"É importante lembrar que o Brasil do juro baixo é um ilustre desconhecido. Se esse juro veio para ficar, precisamos reconhecer que nossos mercados passam a ter escalas também desconhecidas. E não só quanto a investimentos financeiros. Isso também vale para investimentos na economia real. Mas o fato que realmente importa é que, hoje, estamos mais próximos de um mundo que sempre desejamos", conclui Borges.
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