EUA e aliados fazem ofensiva, mas há pouco a fazer para mudar o curso da guerra na Síria
A agressividade da retórica de Donald Trump após o suposto ataque químico do regime sírio contra rebeldes, ocorrido em 7 de abril, não lhe permitia a opção de desistir de uma ofensiva retaliatória.
Se não deslanchasse um ataque, emitiria inequívoco sinal de fraqueza diante da Rússia, fiadora maior do ditador Bashar al-Assad.
O presidente dos EUA corria ainda o risco da desmoralização doméstica se emulasse seu antecessor, Barack Obama —criticado com dureza pelo republicano quando se esquivou de dar resposta militar depois de ter dito que Assad cruzara uma “linha vermelha” ao empregar armas químicas.
Trump contou com o auxílio da França e do Reino Unido para destruir três instalações que seriam ligadas à produção e armazenamento de um arsenal proibido por convenções internacionais.
A ajuda europeia fortalece o discurso de que as potências do Ocidente repudiam as ações externas do líder russo Vladimir Putin, a quem buscam isolar.
Os EUA repetiram o que fizeram há um ano —quando bombardearam alvos sírios após Assad ser acusado de lançar gases venenosos contra opositores. E, tal como em 2017, a retaliação não deve passar disso, salvo se confirmada uma outra eventual agressão de Damasco.
Em termos práticos, não há mudança de rumo na guerra que já se arrasta por sete anos, com mais de meio milhão de mortos. O apoio de tropas russas tornou a vitória do ditador sírio quase uma questão de tempo, e os novos mísseis não alteram esse cenário.
O uso, por Trump, da expressão “missão cumprida” suscitou inevitável comparação com as declarações feitas pelo então presidente George W. Bush, em maio de 2003, anunciando o “fim dos grandes combates” no Iraque.
Trata-se, no entanto, de associação imperfeita. O vaticínio de Bush revelou-se desastrado por anos de ocupação militar americana, até 2011. Agora, os Estados Unidos não pretendem, com efeito, estender-se na Síria. Ao contrário, a Casa Branca quer retirar, assim que possível, os cerca de 2.000 soldados enviados para a luta contra o Estado Islâmico.
Sob essa ótica, o bombardeio contra Damasco já atingiu o midiático objetivo de mostrar que Trump e seus aliados não pretendem tolerar o desrespeito à tal linha vermelha dos ataques químicos, ainda que isso constitua um aspecto lateral do conflito.
Como disse um porta-voz do Pentágono, os próximos passos dependerão do que Assad quiser fazer e do que a Rússia quiser permitir. Um diagnóstico realista de que, nessa batalha, há pouco o que os americanos possam —ou mesmo queiram— mudar.
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