Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - O prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), diz que os partidos que se intitulam como de "centro" podem se unir em torno de uma candidatura nos próximos meses, com o objetivo de ampliar as chances de o bloco manter o comando do Palácio do Planalto a partir de 2019. O presidente nacional do DEM deixa em aberto, inclusive, a possibilidade de o pré-candidato da legenda, presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abrir mão de suas pretensões e se aliar ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, hoje à frente nas pesquisas eleitorais.
"Ninguém que quer ser apoiado pode deixar de avaliar a possibilidade de apoiar também. Não seria correto. Agora, isso não diminui a nossa disposição muito firme de ir adiante e ir até o fim. Eu particularmente acho que vai chegar um momento mais adiante que nós vamos ter que avaliar nesse campo do centro democrático qual é a melhor estratégia: se é buscar uma unificação, se é caminhar com mais de uma candidatura, se é só se unir em um eventual segundo turno. Para mim, não está claro qual será o caminho", disse ACM Neto, em entrevista ao Valor.
Ainda que o campo do chamado "centro" seja representado por mais de uma pré-candidatura, ACM Neto não acredita que Maia deva enxergá-las como adversárias. Para ele, quem faz o contraponto às pretensões eleitorais do presidente da Câmara são os nomes ligados à oposição do governo do presidente Michel Temer e que gravitam em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso no dia 7 de abril, após determinação do juiz Sergio Moro.
"Ainda não há nada consolidado. O Alckmin aparece um pouco melhor nas pesquisas e isso é natural dado o recall que ele tem de já ter disputado uma eleição presidencial, de ter saído na frente ao anunciar uma pré-candidatura antes dos demais. Mas isso não quer dizer que a gente não tenha espaço para crescer. Quando chegar o período das convenções, se nós tivermos uma candidatura mais forte, nada nos impede de sentar à mesa com o PSDB e solicitar que o partido avalie a possibilidade de apoiar a candidatura de Maia", defendeu ACM Neto.
Divulgada no fim de semana, a pesquisa do Datafolha mostrou o tucano como o candidato de "centro" mais viável, variando entre 7% e 8% das intenções de voto. Maia, por sua vez, conta com um apoio bem mais magro (1%).
Ainda assim, o prefeito de Salvador, que é considerado um dos principais conselheiros da pré-campanha do presidente da Câmara, disse que a palavra desistência não está no horizonte do parlamentar. O presidente nacional do DEM negou que o partido tenha estabelecido uma meta para que Maia alcance para garantir que sua pré-candidatura seja mantida. "Esse piso de intenção de voto não existe. O nosso principal objetivo é que sua candidatura supere o dia 7 de outubro e torne-se vitoriosa em um eventual segundo turno. Ninguém aqui, neste momento, sequer trata da possibilidade de desistência. É óbvio que esse quadro de pulverização ajuda, sobretudo, porque Rodrigo terá nesses próximos quatro meses a possibilidade de ser reconhecido como candidato pelo Brasil. Se o quadro fosse de polarização, onde duas candidaturas já despontassem como favoritas, talvez fosse mais difícil começar do patamar que a gente começou. Num quadro pulverizado, é muito mais fácil começar num patamar mais baixo e encontrar um caminho para crescer", afirmou Neto.
Ainda que as pesquisas de intenção de voto coloquem Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) como favoritos na corrida presidencial, o prefeito de Salvador não acredita que o eleitorado se dividirá entre duas "candidaturas de extremo".
"Acho que hoje estão depositados no Bolsonaro eleitores que não serão dele na eleição. Eleitores que, quando enxergarem uma alternativa do centro, mais equilibrada, vão migrar para essa alternativa", avaliou Neto.
Para o presidente do DEM, o PT, caso Lula não possa ser candidato, encontrará uma alternativa interna para a disputa ao comando do Palácio do Planalto, com o objetivo de defender o legado do petista. Sobre a prisão do ex-presidente, Neto acredita que "isso diz respeito à Justiça e não à política".
Ele minimizou o discurso do PT de que Lula é um perseguido político. "Ele não está preso porque a política quis prendê-lo. Ele está preso porque cometeu erros graves que foram demonstrados no curso de um processo judicial, que geraram uma condenação e me parece que esse é o grande ganho do Brasil: enterramos qualquer sentimento de impunidade. A ausência de Lula da eleição terá efeitos negativos para o PT. Lula candidato iria para o segundo turno. É como se ele tivesse um lugar assegurado. Sem Lula, o PT vem para a vala comum e se encaixa nesse quadro de pulverização."
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