Caminhoneiros dispersam com ajuda do Exército e estradas já são liberadas
Em Vilhena (RO), caminhoneiro morreu após ser atingido na cabeça por uma pedra
Gustavo Fioratti , Bruno Benevides , Marcelo Toledo , Igor Gielow , Talita Fernandes , Daniel Carvalho , Gustavo Uribe , Letícia Casado e Rubens Valente | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, RIBEIRÃO PRETO (SP) , BRASÍLIA , REGISTRO E JACAREÍ - No décimo dia de manifestação e sob reclamações de cansaço, caminhoneiros deixaram nesta quarta-feira (30) pontos nevrálgicos da paralisação em rodovias pelo país. Houve episódios de violência e um caminhoneiro morreu.
A saída das rodovias ocorreu após ação do Exército e da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Segundo o governo, às 19 horas, havia 197 pontos de concentração de caminhoneiros pelo país --na terça-feira (29), eram 616. No auge, um dia antes, eram 632.
Não houve confronto entre militares e motoristas, mas atritos entre os motoristas.
Em Vilhena (RO), José Batistella, 70, foi atingido na cabeça por uma pedrada que quebrou o para-brisa do caminhão --socorrido, ele não resistiu.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que o episódio é um "exemplo trágico da violência".
"Isso é desnaturar um movimento que começou com reivindicações justas e em sua integralidade atendidas pelo governo", disse.
No km 282 da Régis Bittencourt, em São Paulo, um caminhão tombou após, segundo o motorista, ter sido atingido por uma pedra.
"O Exército parou e liberou tudo. Um pouco à frente, um motoqueiro jogou pedras, eu fui desviar e não consegui mais trazer [o caminhão] para a pista", disse Paulo Ricardo Florentino, 28.
Uma equipe da EPTV São Carlos foi agredida na Via Anhanguera, em Leme (SP).
A repórter Patrícia Moser conseguiu fugir e foi amparada por moradores. O cinegrafista Marlon Tavoni e o auxiliar Janesi Rigo acabaram encurralados em uma passarela.
O equipamento foi destruído e o carro teve vidros quebrados e pneus furados.
"Esse revoltante ato de selvageria, além de atentar contra a integridade física de profissionais que estavam exercendo sua atividade e de destruir propriedade alheia, busca impedir que as informações cheguem aos cidadãos", disse a ANJ (Associação Nacional de Jornais), que exigiu a apuração do caso.
Armados com fuzis e metralhadoras, cerca de 600 militares participaram da operação pelo país. Eles chegaram em caminhões, jipes e outras viaturas leves e tinham o apoio de helicópteros.
Os militares estavam desde às 5 horas nas estradas para apoiar a liberação. Motoristas relataram estar ali sob coação.
A estratégia para fazer com que eles permanecessem incluía murchar pneus e vandalizar veículos.
No principal ponto de bloqueio na Dutra, em Jacareí, motoristas deixaram o local aos gritos de "vou para casa".
Com a saída, dos 5.000 caminhões que estavam no local na terça-feira (29), restaram apenas quatro.
Em Miracatu, a 137 km de São Paulo, caminhoneiros permaneceram estacionados até as 15 horas, preocupados com os relatos dos colegas de que havia paralisações no Sul.
Apesar da saída em massa tanto na Régis quanto na Dutra, nem todos os caminhoneiros disseram que iam voltar imediatamente ao trabalho.
Alguns contaram à Folha que pretendiam buscar um posto com melhor estrutura, como chuveiro, e deveriam esperar até sexta-feira (1°) antes de seguir viagem.
Houve ação do Exército em ao menos outros cinco estados: Paraná, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Paraíba.
Pela via judicial, o STF (Supremo Tribunal Federal) mandou 96 transportadoras pagar R$ 141,4 milhões, em 15 dias, em multas por não liberarem as estradas.
"Vale a pena enfatizar que a sanção pecuniária, nestes casos, surge como importante instrumento de coerção colocado à disposição do magistrado", escreveu o ministro Alexandre de Moraes.
Liderança radical orienta motoristas a encerrar bloqueios
Considerado pelo Palácio do Planalto um dos líderes mais radicais da paralisação, Wallace Landim, o Chorão, pediu aos motoristas que desfaçam acampamentos e bloqueios.
Em vídeo gravado, segundo ele, às 9h35 desta quarta em Brasília, orientou motoristas a se dirigirem à capital para realizar um grande protesto.
Ele reconheceu que não conseguiu nenhuma interlocução com o Planalto desde segunda-feira (28).
"Quero dizer aos companheiros que o governo não nos recebeu. Descartamos todas nossas energias, força, que a gente podia, e o governo negou o diálogo", afirmou.
Ele disse que "não participou, não compactuou com sindicato, cooperativa, federação" que aceitaram um acordo com o governo Michel Temer.
Quando o vídeo tinha 17 mil visualizações, um motorista que não se identificou disse que "Chorão" está "lá em Brasília nos representando".
Nenhum comentário:
Postar um comentário