Normalização não será rápida. No caso da indústria de suínos, são 6 meses Descarte de produtos alimentícios e paralisação de fábricas terão impacto na economia
Daiane Costa, Glauce Cavalcanti e Ronaldo D’Ercole | O Globo
-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- Desde o início da greve dos caminhoneiros, no último dia 21, o setor produtivo acumula prejuízos bilionários. Os bloqueios nas rodovias têm deixado o varejo sem estoque e as indústrias e o setor de serviços sem matéria-prima e empregados, paralisando a produção. As companhias aéreas amargam cancelamento de voos devido à falta de combustível, e o Porto de Santos, o maior terminal da América Latina, opera com sérias restrições. E a situação levará algum tempo para se normalizar, o que significa impacto na economia.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima as perdas em R$ 6,6 bilhões e alerta que haverá falta de alimentos e alta de preços nos supermercados. Segundo o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, esse prejuízo é apenas na produção primária e não considera o processamento e a indústria de insumos:
— Fora o que está por vir, porque a recuperação não é imediata.
Um dos setores mais afetados é o de frangos e suínos, que amarga um prejuízo de R$ 3 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABTA). Praticamente todas as unidades de produção e 235 mil trabalhadores estão parados, 70 milhões de frangos morreram, e 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos ainda correm risco de morrer. A recuperação vai demorar, porque são ciclos longos de produção: a cadeia do frango levaria dois meses, e a dos suínos, 180 dias.
A produção de soja tem deixado de escoar diariamente 400 mil toneladas do grão, e 360 mil litros de leite foram descartados, um prejuízo de R$ 1,2 bilhão.
No setor têxtil, o drama é parecido. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, as perdas já beiram R$ 1,9 bilhão, e 70% das empresas representadas pela entidade já pararam ou estão prestes a parar:
— Não há previsão de retomar a produção. Estamos sem liderança (política), e essa situação já transcende o bom senso.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, estima que 40% das atividades do setor tenham sido atingidas, comprometendo negócios de R$ 2,4 bilhões. E o Sindusfarma, que representa a indústria de medicamentos, estima perdas de R$ 1,6 bilhão, devido a interrupções na produção e problemas na entrega de medicamentos em farmácias e hospitais.
A produção automobilística está parada desde sexta-feira passada. A Federação da Indústrias do Estado do Rio (Firjan) calcula que isso causará uma perda de R$ 77 milhões no PIB da sua indústria de transformação.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), as perdas do setor devem bater R$ 3,1 bilhões, considerando cinco estados — Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia — mais o Distrito Federal. Com isso, a CNC reduziu sua previsão para o crescimento do comércio este ano de 5,4% para 4,7%. O prejuízo se divide entre R$ 1,42 bilhão na venda de combustíveis e lubrificantes e de R$ 1,73 bilhão no comércio de hortifrutigranjeiros, até o dia 28.
CADE APROVA COMPARTILHAMENTO
Na cidade do Rio, o Clube de Diretores Lojistas (CDL-Rio) estima queda de 80% no faturamento do comércio durante a greve. Já no segmento de bares e restaurantes, diz o SindRio, o prejuízo é de R$ 20 milhões, com recuo de 40% no movimento. No estado, a perda chega a R$ 34 milhões.
Mais de 270 voos foram cancelados até anteontem, um prejuízo superior a R$ 400 milhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
No Porto de Santos, os embarques de contêineres para exportação estão praticamente paralisados, e a capacidade de armazenagem está perto do limite. Segundo o Sindicato das Agências de Navegação Marítima de São Paulo (Sindamar), cerca de 250 mil toneladas deixaram de embarcar até o dia 25, o equivalente a 17,86 mil contêineres, destinados principalmente a Europa, Estados Unidos e Ásia. Desde o início da greve, os prejuízos passam de US$ 100 milhões, estima o Sindamar.
A fim de normalizar o abastecimento de combustíveis, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem que as distribuidoras compartilhem seus equipamentos logísticos. Pedida por Raízen Combustíveis, Petrobras Distribuidora e Ipiranga Produtos de Petróleo, a medida será estendida às demais empresas do setor que tiverem interesse em dividir suas bases de distribuição.
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