Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) intensificaram a preocupação com a demora na recuperação do mercado de trabalho, cuja fraqueza persistente prejudica dos mais jovens aos pais de família. A Pnad Contínua do primeiro trimestre mostrou não só o crescimento do desemprego mas também da subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e do desalento. No total, 24,7% da força de trabalho, ou seja, quase um quinto, está subutilizada, o que afeta 27,7 milhões de pessoas. A taxa de desemprego subiu para 13,1% em março em comparação com 11,8% do final de 2017 e dos 11,6% de 2016.
Divulgado pouco depois de o governo de Michel Temer ter comemorado dois anos, o balanço levou o Planalto a antecipar a liberação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. A tentativa foi mostrar um quadro melhor, mas insuficiente para tranquilizar a população. Foram criados 115,9 mil postos formais em abril, acumulando 336,9 mil nos primeiros quatro meses do ano. O resultado neutraliza o balanço negativo de 2017, quando o saldo foi de 20,8 mil vagas perdidas. Está longe, porém, de compensar o 1,5 milhão de vagas fechadas em 2015 e o 1,3 milhão de 2016.
Um leve aumento do desemprego no início de ano poderia até ser considerado normal após as demissões dos contratados para atividades temporárias no fim de ano. Mas a taxa superou as expectativas e ficou acima do que se esperava. Chama atenção especial o número de desalentados, que chegou a 4,6 milhões de pessoas em comparação com 4,3 milhões no fim de 2017, 60,6% dos quais estão no Nordeste. São pessoas que estão fora do mercado porque não conseguiram trabalho adequado ou não tinham experiência ou qualificação, ou são muito jovens ou idosos. Mas o número de 13,7 milhões de desocupados é avassalador, além dos 6,2 milhões que trabalham menos horas do que poderiam.
Enquanto o mercado de trabalho não se recupera, aprofundam-se algumas distorções preocupantes. Uma delas é o aumento da ocupação informal, sem carteira assinada, e por conta própria. Calcula-se que a maior parte das pessoas que conseguiram ocupação no último ano foi dentro dessas condições. O desemprego tem atingido mais fortemente os mais jovens, muitos dos quais deixam de estudar e tornam-se mão de obra pouco competitiva. O país tinha 11,16 milhões de pessoas de 15 a 29 anos que não estudavam e nem trabalhavam, 619 mil a mais do que em 2016. A taxa de desemprego nessa faixa chega a 28%. Essa situação vai obrigar as empresas, quando a situação melhorar, a ter de investir na sua força de trabalho para conseguir ser competitiva, canalizando capital e esforços nessa direção. As estatísticas também estão mostrando que a desocupação está chegando aos pais de família, e que há 3 milhões de pessoas que estão na fila do emprego há dois anos ou mais. Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, mais difícil é voltar, situação que vai criando um desemprego estrutural.
O mercado de trabalho reflete o desempenho irregular da economia. Depois de um último trimestre promissor em 2017, a virada do ano começou otimista. Mas 2018 está se mostrando vacilante. Isso ficou patente no resultado do IBC-Br, índice criado pelo Banco Central, que registrou queda de 0,13% no primeiro trimestre na comparação com o quarto trimestre do ano passado. A queda reflete o comportamento dos principais setores da economia nesse primeiro trimestre, quando os serviços registraram queda de 0,9%, a indústria ficou estagnada e o varejo foi o único a mostrar alguma expansão, de 0,7%.
Nas últimas semanas, o quadro ficou ainda mais incerto. Um dos motivos é a turbulência internacional causada pela expectativa de aperto da política monetária americana. Por conta disso, o Copom acabou frustrando as previsões e encerrou o ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic). Outro problema é a crescente incerteza com o cenário eleitoral, que se tornará mais influente à medida que as eleições se aproximam. Para complicar, há as dúvidas a respeito do impacto da reforma trabalhista no mercado e com os pontos que ficaram incertos na expectativa da regulamentação prometida pelo governo, que não veio ainda.
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