Reeleição de Maduro em processo ilegítimo torna futuro da Venezuela sombrio
As eleições presidenciais da Venezuela, no domingo (20), desfizeram qualquer vestígio de esperança de que o país pudesse mudar de rumo. Como se esperava, Nicolás Maduro reelegeu-se, sob evidências de fraude e manipulação, e terá direito a ficar no poder até 2025.
Difícil imaginar algo pior para um país que vive o quinto ano consecutivo de queda profunda da renda, com a mais alta inflação do mundo e escassez crônica de alimentos e insumos básicos. Entretanto a perspectiva de mais seis anos de um regime ensandecido faz acreditar em que se possa ampliar a dimensão da calamidade.
Como primeira reação, o não reconhecimento da legitimidade do pleitopor parte dos países vizinhos (incluindo o Brasil) e dos Estados Unidos impunha-se de modo quase obrigatório diante do flagrante uso da máquina eleitoral e do cerceamento da oposição.
Parece haver consenso regional, também, de que em algum momento chegará a um limite a capacidade de os venezuelanos suportarem tal nível de privação. A questão central reside em como —e se é possível— impedir Maduro de levar a população ao abismo.
Aprove-se de partida, como já se fez aqui, o rechaço do governo brasileiro à irrefletida ideia de intervenção militar estrangeira.
A proposta seduz os setores mais radicais do antichavismo e já foi ventilada por Donald Trump, mas somente daria munição ao argumento do ditador de que luta contra inimigos externos.
O mecanismo mais factível de pressão tem sido a imposição de sanções. Assim o fez a Casa Branca nesta segunda-feira (21), ao anunciar a proibição da compra e venda de títulos da dívida pública ou de qualquer ativo do governo da Venezuela em território americano.
O expediente, porém, tem alcance limitado, pois não atinge as exportações de petróleo, meio de obtenção de dólares pela nação caribenha. Os EUA resistem a essa medida, pois não conseguiriam restringir seus efeitos às autoridades, causando provável piora do padrão de vida dos venezuelanos.
Ademais, a adoção de retaliações não encontra apoio do Brasil, a menos que houvesse aval da ONU —hipótese improvável, pois Maduro dispõe dos aliados China e Rússia como votos contrários em uma eventual consulta sobre o tema no Conselho de Segurança.
O canal diplomático com Maduro, por seu turno, praticamente se fechou após um grupo de 14 países das Américas convocar de volta seus embaixadores em Caracas.
Restaria a tentativa de convencer os poucos parceiros venezuelanos (Cuba, em especial) a intermediar um diálogo com a oposição —que, aliás, agravou suas divisões internas nesse pleito. Desenha-se um quadro, pelo menos no curto prazo, pouco animador.
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