O drama da Venezuela deve servir de alerta diante de propostas de cunho nacional-populista, que, de tempos em tempos, surgem na América Latina
A vitória fraudada de Nicolás Maduro no domingo passado não foi a primeira do bolivarianismo na Venezuela, mas, se não for a última, está próximo disso. A torcida dos democratas do continente é que o regime já de base militar não tente sobreviver na forma de uma ditadura aberta, com o risco de guerra civil. Já existe bastante drama no país.
Enquanto a Venezuela de Chávez e Maduro dissolve, e a diplomacia continental tenta abrir espaço para patrocinar uma transição pacífica para a volta da democracia, cabe uma reflexão sobre o que acontece nesta Venezuela em fase terminal. Entender o bolivarianismo chavista tem especial importância para brasileiros, argentinos, bolivianos, e equatorianos, apenas para ficar na América do Sul, porque seus países tiveram e ainda têm forças políticas nacional-populistas que, por suas características ideológicas, aspiram à hegemonia, para aplicar o modelo do “Socialismo do Século XXI”. É uma questão sectária, de fundo religioso. Conseguiram na Venezuela, e o resultado é uma tragédia de múltiplas faces.
De inspiração castrista, inclusive com ajuda dos irmãos Castro, o regime seguiu a cartilha do populismo extremado. Distribui renda sem gerá-la, confiando no petróleo. Com a maior reserva de hidrocarbonetos do planeta, superior mesmo à da Arábia Saudita — embora seja de um petróleo pesado, ao contrário do saudita —, a Venezuela faliu. Não há registro de uma nação tão rica em petróleo que tenha ficado sem divisas. Caso para o livro dos recordes.
Quanto à moeda nacional, os bolívares, estes derretem numa hiperinflação que está em 14.000%. Ao mesmo tempo, o sistema produtivo foi sendo destroçado por expropriações, “nacionalizações” e que tais. Neste ano, o PIB deve cair mais 15% — em quatro anos, já foram 35%. Para se ter ideia da catástrofe, a população brasileira padece de queda de renda e de padrão de vida devido ao desemprego causado por uma recessão de quase 8% no biênio 2015/16. Algo suave em comparação à Venezuela.
Sem divisas e com o PIB em queda livre, falta tudo, de medicamentos em farmácias e hospitais a alimentos. Assim, a população foge, em grave crise humanitária, rara no continente: de 2015 a 2017, 1 milhão de venezuelanos migraram. A fronteira Norte brasileira reflete este fuga. Há várias medições de pobreza, uma delas estabelece que, em 2017, 51% da população estavam nesta condição. Outros dados da tragédia: a mortalidade infantil aumentou 30%, e os casos de malária, que eram, em 2013, 30 por mil habitantes, no ano passado chegaram a 406.
O drama da Venezuela não pode ser esquecido e deve servir de alerta diante de propostas salvacionistas, de cunho nacional-populista, antidemocráticas — embora sempre em nome da “democracia” —, que de tempos em tempos surgem na América Latina. E hoje, reaparece na Europa e está no poder em Washington. A Venezuela precisa ser a vacina no continente contra estes modelos.
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