Governo sobe o tom e pede prisões de empresários; sindicatos de petroleiros querem saída de Pedro Parente
Enquanto a paralisação de caminhoneiros chegava ontem ao sexto dia, com 566 pontos de bloqueio parciais nas estradas e cenas de desabastecimento em todo o País, a Federação Única dos Petroleiros, representante de empregados da Petrobrás, anunciou manifestações hoje e greve de 72 horas a partir de quarta-feira. Eles querem, entre outros pontos, a demissão do presidente da companhia, Pedro Parente, e a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Em entrevista, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, subiu o tom contra a greve dos caminhoneiros e afirmou que a Polícia Federal abriu 37 inquéritos em 25 Estados para investigar empresários de transporte por suspeita de locaute – quando uma paralisação é coordenada e incentivada por patrões, o que é ilegal. Também foram expedidos mandados de prisão. O governo começou a aplicar multas de R$ 100 mil por hora aos donos de transportadoras. Também ontem, o presidente Michel Temer assinou decreto que autoriza o poder público a requisitar veículos particulares para o transporte de cargas essenciais.
Governo pede prisão de empresários para tentar pôr fim à greve de caminhoneiros
Decreto editado pelo Planalto também permite que motoristas das Forças Armadas assumam o volante dos caminhões parados
Fernando Nakagawa Julia Lindner Tânia Monteiro | O Estado de S. Paulo.
Para tentar debelar a greve dos caminhoneiros, que completou ontem seis dias, o governo resolveu endurecer um pouco mais o jogo. Segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a Polícia Federal já instaurou 37 inquéritos em 25 Estados para apurar a prática ilegal de locaute – quando a paralisação dos funcionários tem iniciativa ou apoio das empresas, e que os responsáveis estão sendo convocados para prestar depoimento. O ministro informou também que mandados de prisão para empresários já foram expedidos, mas disse que, por questão de segurança, não poderia informar se já tinham sido cumpridos.
“Temos comprovado, seguramente, que essa paralisação por caminhoneiros autônomos, em parte, teve desde seu início a promoção e o apoio criminoso de proprietários e patrões de empresas transportadoras distribuidoras e podem ter certeza que irão pagar por isso”, afirmou o ministro ontem à noite, após a segunda reunião do gabinete de crise que acompanha a greve dos caminhoneiros. “Identificamos com a maior clareza movimento criminoso de parte dos senhores proprietários donos de grandes empresas, que não permitem, não engajam, não liberam os caminhoneiros. Pelo contrário, lhes dão apoio para permanecer paralisados”, afirmou.
Para sufocar o movimento, o governo Michel Temer buscou atuar em três frentes: a Polícia Rodoviária Federal (PRF) entregará ao Ministério Público Federal relatório atualizado de todas as multas aplicadas a caminhoneiros autuados nas estradas no processo de desobstrução; o governo diz que também passou a aplicar multas de R$ 10 mil por dia para caminhoneiros e R$ 100 mil por hora para empresas que continuarem resistindo na greve; e atuação mais efetiva das Forças Armadas na liberação das rodovias, principalmente das vias consideradas fundamentais para distribuição de combustíveis e produtos essenciais, como hospitalares.
Segundo Jungmann, a Polícia Rodoviária Federal emitiu 400 autos de infração que ultrapassam R$ 2 milhões. Essas multas só dizem respeito a infrações ao Código Brasileiro de Trânsito, segundo a corporação. Não incluem as sanções permitidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a greve ilegal.
O presidente Temer também assinou um decreto no qual permitiu ao governo assumir o controle de caminhões para desobstruir as rodovias. A medida, chamada de requisição de bens, já havia sido anunciada na sextafeira, mas, só seria tomada se houvesse necessidade. Pelo menos 800 motoristas das classes D e E do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão de prontidão em todo o País para serem empregados, caso haja necessidade. Mas este é considerado um último recurso pelo governo. Esses motoristas têm habilitação para dirigir até mesmo a chamada carga sensível.
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