Para analistas, bloco ocupa papel que foi do PSD pré-1964; do PFL nos anos 90 e do PMDB com Lula
Dimitrius Dantas | O Globo
SÃO PAULO / O centrão sempre existiu. Mas, desta vez, com exceção de mais cargos na máquina pública, o grupo não sabe o que quer. É essa a conclusão de três especialistas ouvidos pelo GLOBO sobre os partidos cobiçados por boa parte dos presidenciáveis e que querem eleger 230 deputados nas próximas eleições.
Ao contrário de outros partidos que formaram o chamado centro no passado, desta vez o grupo não tem nenhum projeto.
Com diferentes nomes, o centro político aparece em vários momentos da política brasileira.
Foi o caso do Partido Social Democrático (PSD) entre 1946 e 1964, do PFL nos governos FHC, e do PMDB na era Lula. Agora, a bola está com o centrão, um arremedo de siglas até pouco tempo nanicas e sem expressão, dizem os especialistas.
Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o cientista político Nelson Rojas de Carvalho afirma que o atual centrão repete a lógica eleitoral de seus pais: PSD e PFL.
Suas legendas formam um grupo que tende a conseguir votos nos rincões do país, em municípios pequenos e de áreas rurais. Mas, diz Rojas, diferentemente daquelas duas finadas siglas, o centrão se une apenas pela lógica do fisiologismo e da proximidade com os recursos federais.
—Alguns líderes do centrão são deputados que não têm expressão regional. Temos um Legislativo controlado por esse setor pulverizado, que converge só na fisiologia —disse.
Professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Heloisa Starling também enxerga uma diferença entre o novo centro político representado pelo centrão e outros partidos que já ocuparam esse lugar.
Enquanto, no passado, lideranças como Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen tinham expressão nacional, agora surgem nomes como Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira, sem grandes resultados eleitorais.
—Havia grandes lideranças ali dentro (do PSD e do PFL) e, portanto, um equilíbrio maior. Hoje, não se encontra isso. O que há é essa corrupção do presidencialismo de coalizão — afirma Heloisa.
Na última semana, o grupo se reuniu em torno do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin. Heloísa diz que se impressionou com a flexibilidade do grupo que, até os últimos dias de negociações, chegou a considerar fortemente uma aliança com Ciro Gomes, do PDT. Para ela, o centro político, que antes servia como mediador de conflitos, se tornou, com a ascensão do centrão, um foco de instabilidade:
—Se boa parte dos presidenciáveis está querendo negociar com eles, não me parece que o centrão esteja em decadência, mas estamos vivendo um processo de fragilização da democracia.
Eduardo Grin, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, também vê o centrão como foco de instabilidade. No entanto, não prevê ruptura, mas aumento no valor a ser cobrado:
—Qualquer que seja o presidente eleito, dificilmente vai assumir com enorme legitimidade, como Lula e Fernando Henrique. O custo vai aumentar mas não a ponto de inviabilizar o sistema político.
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