sexta-feira, 27 de julho de 2018

Cercado por investigados, Alckmin formaliza aliança com centrão

Coligação traz vantagens e também ônus para o tucano

Em solenidade realizada em Brasília, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, anunciou que contará com o apoio do centrão, formado por DEM, PP, PR, PRB e SD, siglas que reúnem diversos políticos investigados em escândalos de corrupção, alguns deles presentes à cerimônia de ontem. O bônus é que, ao se aliar ao bloco, o tucano soma agora dez partidos na coligação, o que lhe garante mais de um terço do tempo total do horário eleitoral gratuito. Cotado para vice da chapa, o empresário Josué Gomes recusou o convite.

Aliança de investigados

Cercado por políticos envolvidos em casos de corrupção, Alckmin recebe apoio do centrão

Bruno Góes, Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani e Leticia Fernandes | O Globo

BRASÍLIA- O pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, anunciou ontem, em Brasília, a aliança com o bloco de partidos do centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD). Cercado por políticos investigados em diferentes escândalos de corrupção, o tucano prometeu colocar mulheres em seu Ministério, empolgou-se ao dizer que o seu eventual governo transformaria o Brasil numa Abu Dhabi — em referência à rica capital dos Emirados Árabes Unidos —, mas não se pronunciou sobre o prontuário de seus apoiadores. O evento de Alckmin com seus novos aliados terminou sem a definição de um vice. O empresário Josué Gomes, cotado para o cargo, anunciou oficialmente a recusa ao convite, alegando “motivos pessoais”. O vice na chapa deverá sair de um dos partidos do centrão, e o mais cotado é o PP, maior legenda do bloco.

Dono de uma coligação que já chega a dez partidos, o tucano terá o maior tempo de TV no horário eleitoral (4 minutos e 46 segundos). Bem encaminhado entre os políticos, Alckmin terá de convencer os eleitores de que o seu projeto, repleto de velhos conhecidos da crônica policial, deve ser o escolhido para comandar o país. O próprio Alckmin tem pendência a esclarecer em uma investigação decorrente da Lava-Jato que foi enviada à Justiça Eleitoral sobre acusação de prática de caixa dois.

Cientes desse desafio, os novos aliados de Alckmin no centrão começaram ontem mesmo a tentar reduzir eventuais impactos negativos da aliança. O presidente do DEM, ACM Neto, fez questão de chamar o bloco de “centro democrático”.

“UM ABRAÇO” A VALDEMAR
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal e preso no processo do mensalão, o cacique do PR, Valdemar Costa Neto, sequer apareceu. No seu lugar, enviou o deputado Milton Monte (SP), que responde a dois inquéritos no STF, no âmbito da delação da empreiteira Odebrecht, por corrupção e lavagem de dinheiro. Ao notar a ausência de Valdemar, Alckmin mandou “um abraço” ao cacique do PR. Em seu discurso, Milton Monti citou Aristóteles ao ensinar que “a virtude está no meio”.

O evento teve início com a leitura de uma carta em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), codinome “botafogo” na lista de propinas da Odebrecht e com dois inquéritos no STF, desistiu de sua pré-candidatura ao Planalto. Alckmin estava tão otimista com o apoio do centrão que chegou a dizer que o Brasil teria um desenvolvimento fora do comum no seu governo:

— O Brasil vai ser Abu Dhabi, com as jazidas (de petróleo).

Investigado pela Polícia Federal por suposta participação em um esquema de fraudes no registro sindical no Ministério do Trabalho, o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), foi logo cobrando a fatura ao discursar. Ele disse que Alckmin precisa “reconstruir” as organizações sindicais, prejudicadas com o fim da contribuição sindical obrigatória, tema com o qual o tucano evita se comprometer. Alckmin preferiu ignorar a cobrança e reforçar o significado da coligação:

— Seria fácil (obter o apoio dos partidos) se estivesse em primeiro lugar nas pesquisas. Mas não. (Os partidos) estão vindo por convicção.

Mais contido que Paulinho, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), sentou ao lado de Alckmin. Alvo de seis inquéritos no Supremo, Ciro é investigado por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, obstrução de Justiça e organização criminosa. Recentemente, foi alvo de uma operação da PF por supostamente estar envolvido em ameaças de morte contra um ex-assessor que tornou-se delator.

Cotado para indicar o vice de Alckmin, o PP notabilizou-se por vender apoio ao governo do ex-presidente Lula, no escândalo do mensalão. Depois tornou-se sócio do PT no esquema investigado pela Lava-Jato. O partido teria desviado R$ 358 milhões da Petrobras.

Outro apoiador do tucano, o presidente do PRB, Marcos Pereira, foi gravado pelo empresário Joesley Batista enquanto combinava o pagamento de uma propina de R$ 6 milhões. Na ocasião, Pereira era ministro do Desenvolvimento do governo Temer. Rodeado de homens na mesa de autoridades, Alckmin preferiu tratar de temas menos delicados e prometeu nomear mulheres no seu primeiro escalão.

— (Vamos nomear) O máximo possível (de mulheres).

A mesa tinha ainda outros políticos investigados. O ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que vinha coordenando a campanha de Alckmin, responde a inquéritos por envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira. O deputado Julio Lopes (PP-RJ) também está na lista da Odebrecht. O deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP) é acusado de ter recebido caixa dois em 2010. Todos os integrantes do centrão negam as acusações.

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