sexta-feira, 27 de julho de 2018

Censo mostra progressos e atrasos no meio rural: Editorial | Valor Econômico

As grandes propriedades foram responsáveis pelo aumento da área de uso da agropecuária entre 2006 e o ano passado, segundo o censo do setor divulgado ontem pelo IBGE. Apenas o acréscimo de 3,2 mil grandes estabelecimentos, com mais de 1 mil hectares, elevaram a área ocupada em 16,3 milhões de hectares, quase a totalidade dos 16,5 milhões que foram acrescidos à exploração no período. A participação das maiores propriedades subiu de 45% para 47,6% da área total. Os estabelecimentos médios - entre 100 e mil hectares - tiveram sua fatia reduzida de 33,8% a 32%, com encolhimento de área de 814 mil hectares. No total, 41% do território brasileiro serve à produção de alimentos, entre lavouras, pastagens, matas naturais e plantadas - ou 350 milhões de hectares.

Ao longo da história dos censos, iniciada em 1975, porém, o aumento da participação das grandes propriedades não se deu em função do crescimento da área explorada, que ocorreu até 1985. A área usada chegou a cair depois, até 2006, para voltar a crescer 5% até o ano passado. Em pouco mais de 40 anos, as lavouras permanentes ocupam praticamente a mesma área (8,3 milhões antes e 7,9 milhões de hectares agora), enquanto que as lavouras temporárias, nas quais se inclui o avanço extraordinário da soja, quase duplicaram de área (de 31,1 para 55,3 milhões de hectares).

A expansão agropecuária foi mais intensiva do que extensiva, como se nota também na evolução das pastagens. Na última década considerada (2006-17), as pastagens naturais retrocedem em mais de 9 milhões de hectares, enquanto que área praticamente equivalente é acrescentada à destinada às pastagens plantadas. Já as matas naturais cresceram mais de 10%, para 106,2 milhões de hectares, e as plantadas quase dobraram de extensão, para 8,5 milhões de hectares.

Em 2017, assim, as matas ocupavam 35% da área total, e as pastagens, 42,2%. O aumento de produtividade da agricultura brasileira é muito claro em relação às lavouras temporárias e algumas permanentes, com elevação não muito considerável para as primeiras e redução em relação às segundas - e ambas com elevação expressiva da produção. A mesma coisa não pode ser dita em relação à pecuária. Nos últimos dez anos as pastagens ocuparam mais espaço, mas os rebanhos bovinos e ovinos encolheram.

Houve, entretanto, migração da pecuária de terras que se tornaram mais caras para outras mais baratas. Dois terços do aumento das terras exploradas, ou cerca de 12 milhões de hectares, ocorreram no Mato Grosso e no Pará. No Mato Grosso, a primazia foi para as lavouras de grãos. No Pará, um dos campeões de desmatamento do país, o avanço predominante foi o das pastagens, com crescimento do rebanho bovino.

No geral, os bons resultados do campo se devem ao aumento da intensidade de capital aplicado especialmente às lavouras. A frota de tratores empregada nos campos, por exemplo, cresceu quase 50% desde 2006. A área irrigada aumentou 52% em relação ao último censo e a irrigação é utilizada por 10% dos 5,1 milhões de estabelecimentos rurais. Desde então, o pessoal ocupado diminuiu em 1,5 milhão de pessoas, uma parcela das 8 milhões que deixaram de trabalhar nas áreas rurais se o ponto de partida for 1995.

A tecnologia ensaia dar novos saltos na área rural com a tecnologia da informação e, embora atrasado, o campo brasileiro avança na criação da infraestrutura necessária. Perto dos 76 mil produtores rurais que tinham acesso à internet em 2006, os 1,4 milhão que a possuem hoje são um exército. A banda larga, pré-requisito indispensável, tornou-se disponível para 659 mil produtores em 2017.

A crescente tecnificação do campo anda em velocidade bem maior do que a educação dos produtores rurais, um reflexo do Brasil atrasado. Cerca de 16,5% deles afirmaram nunca ter frequentado uma escola, enquanto que 79% não foram além do ensino fundamental e 23,1% não sabem ler e escrever. O abandono do campo pelos mais jovens reforça o peso do Brasil arcaico nas propriedades rurais. Despencou o número de pessoas com até 35 anos, enquanto que o contingente de pessoas acima dos 45 anos compõe hoje dois terços dos produtores.

Os resultados preliminares do censo agropecuário do IBGE não dão ideia clara da preocupação do meio rural com o ambiente. É possível que com a divulgação dos dados completos também surja algum progresso em relação a isso.

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