O projeto é levá-la o mais longe possível, para ajudar na transferência de votos a Haddad
Não se nega ao PT a competência em torcer fatos e repetir à exaustão sua versão, para conseguir dar a volta por cima nos próprios maus momentos, e fazer valer seu discurso.
A carreira política de Lula estaria encerrada, ou pelo menos bastante abalada, na condenação no processo do tríplex do Guarujá, em duas instâncias, com vários recursos negados, até no Supremo, não fosse ele uma liderança política caudilhesca, com ares de divindade.
Seguidores fiéis se recusam a examinar as provas materiais e testemunhais que atestam que um apartamento simples no prédio concluído pela OAS foi substituído pela cobertura tríplex, reformada, com elevador interno e cozinha moderna (comprada na mesma loja que forneceu a cozinha do sítio de Atibaia, assunto de outro processo).
Em troca, o PT abriu as portas da Petrobras para a empreiteira. Daí tantos juízes rejeitarem argumentos da defesa do ex-presidente.
O roteiro seguido para registrar a candidatura de Lula a presidente, para que ele possa se eleger pela terceira vez, segue um padrão. Inelegível, pelo que estabelece de forma clara a Lei da Ficha Limpa —segundo a qual condenados em segunda instância ficam impedidos de concorrer a eleições por oito anos —, Lula mobilizou partido e aliados para resistir e tentar emparedar o Judiciário.
Em parte, consegue no Supremo, mas enfrenta dificuldades na Justiça Eleitoral. Todas as indicações são de que a Ficha Limpa também valerá para ele, seguindo o inegociável princípio republicano de que a lei é para todos.
Tanto que o PT deixou engatilhado um plano B: assume o lugar de Lula, na chapa, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, o candidato a vice, e, substituindo este, Manuela D’Ávila, inicialmente candidata à Presidência pelo satélite PCdoB.
Parece bem executada a tática de levar até o fim a candidatura do expresidente, numa tentativa ousada de inseminar sua foto na urna e mesmo de contrabandeá-lo para o programa eleitoral.
A recém-empossada presidente do TSE, ministra Rosa Weber, não se mostra disposta e permitir que o tribunal seja um joguete na manobra lulopetista. E espera-se que o mesmo ocorra no Supremo, aonde deverá chegar um último recurso.
Tudo isso para tentar ampliar ao máximo a capacidade de transferência de votos lulistas para Haddad, mal cotado em pesquisas em que seu nome foi incluído.
Para turbinar ainda mais esta manobra, o partido e o ex-presidente procuram usar ao máximo o clássico ingrediente da vitimização — truque sempre utilizado no PT. Militantes nas ruas, versões distorcidas espalhadas nas redes e artigos na imprensa estrangeira servem para criar a falsa ideia de um mártir do povo, um injustiçado. De nada valem os robustos autos dos processos.
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