- O Globo
Está em curso a mais bem coordenada ação em favor de Lula desde que ele foi preso, há quase quatro meses. O PT e seus braços sindical, rural e pastoral vão usar todo o resto de força e capacidade de mobilização de que dispõem para tentar emplacar a tese de que a prisão de Lula foi um golpe antidemocrático e que ele deve ser solto e participar da eleição de outubro. Como não foi possível a sublevação das massas, sonho que não se alcançou nem mesmo com o auxílio do exuberante e que de apoio nas redes sociais, a cartada final será jogada com greves de fome, marchas de militantes e sem-terra e com mobilizações sindicais.
O que está em jogo nestes dias que antecedem à data de registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral, 15 de agosto, é se o Brasil conseguirá manter em vigor os rigores de duas leis que o Congresso aprovou com o apoio de todos os partidos, inclusive do PT. A lei que estabelece prisão após condenação em segunda instância está em vigor pleno após apreciação do Supremo. E a Lei da Ficha Limpa — que impede criminoso condenado por tribunal colegiado de se candidatar a cargo eletivo— foi aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pelo então presidente Lula.
A desenvoltura do PT em atacar os dois dispositivos legais faz todo sentido para o partido, que aparentemente acredita que leis e artigos constitucionais foram concebidos para serem quebrados. Foi o que se viu na manobra de Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski, quando, manipulando o plenário do Senado, rasgaram a Constituição e preservaram os direitos políticos de Dilma Rousseff no mesmo ato que cassou o seu mandato.
Nestes primeiros 15 dias de agosto tudo será feito usando- se o nome da democracia e da justiça para se atentar justamente contra a democracia e a justiça. O barulho começou antes mesmo de agosto. Começou no domingo passado, com o Festival Lula Livre, que levou para os Arcos da Lapa alguns dos grandes e muitos dos pequenos nomes da música popular brasileira para cantar em favor da soltura do líder preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Embora fosse um ato de natureza política com caráter eleitoral, os músicos puderam cantar e se manifestar a favor de Lula. O que é proibido pela lei eleitoral. Mas lei é apenas um detalhe.
Foi iniciada na terça-feira uma greve de fome que só será interrompida com a libertação de Lula, segundo o seu organizador, o gorducho João Pedro Stédile, líder do MST. Stédile não participa da greve, claro que não. Arrumou seis membros do seu movimento para fazer a parada digestiva. E o PT quer mais, está arregimentando pessoas nos movimentos sociais para entrarem na onda. Nenhum líder do partido se dispôs a participar do ato. Também não se sabe se as lideranças do partido vão participar do dia nacional de jejum convocado para o dia 4, agora. Chato que vai cair logo no sábado, dia nacional da feijoada.
Outro braço poderoso do partido, a Central Única dos Trabalhadores ( CUT) convocou para 10 de agosto um dia nacional de lutas. O ato — que não faz referência à greve geral, para evitar fiasco igual ao de abril passado — fala em paralisações e mobilizações contra “o governo golpista de Temer” e pela libertação de Lula. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), antiga aliada do PT, usou sua Comissão de Justiça e Paz para convocar fiéis e para criticar a Justiça, “que tem se revelado um Oásis da República” e que “deixa- se contagiar por interesses não republicanos”.
No dia 10, haverá um ato em frente ao STF com a presença do Nobel da Paz argentino Pérez Esquivel. E, finalmente, no dia 15, segundo CUT, MST e PT, dezenas de caravanas chegam a Brasília para o ato derradeiro. Nessa data, o TSE decide se aceita ou recusa o registro de Lula na chapa presidencial do PT. A presença em Brasília de militantes das diversas entidades que apoiam Lula e todos os atos anteriores têm caráter político. Seu objetivo é fazer pressão sobre o tribunal em favor de Lula. O que vamos saber, então, é se o tribunal observará a lei ou se curvará a esta pressão.
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