Partido bloqueia o pedetista e dá prioridade à sobrevivência nos estados, a começar por Minas
Igor Gielow | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O acordo entre PT e PSB não é só má notícia, se não a pior até aqui na campanha, para Ciro Gomes. É prova de que o partido de Luiz Inácio Lula da Silva caiu na real sobre o pleito de 2018, que para os petistas até aqui só gira em torno da ideia algo fantasiosa da candidatura do ex-presidente preso ao Planalto.
Ainda que mantenha Lula no centro do palco virtual, o PT indica que está pensando na sua sobrevivência. Com o acerto, caso se mantenha apesar da resistência já demonstrada por alguns dos nomes afetados por ele, a sigla ganha alguma musculatura para a difícil tentativa de reeleição de Fernando Pimentel em Minas, de longe o mais importante alvo factível para o PT neste ano.
Além disso, ao buscar acertar os ponteiros com o PSB em Pernambuco, um dos principais colégios eleitorais do Nordeste, tenta unificar a região em torno do nome do PT à presidência. Sacrificará Marília Arraes, que de todo modo é jovem e parece ter uma carreira longa à frente.
Nas contas de estrategistas deste pleito, o Nordeste deverá dar algo como 45% dos seus votos para o PT na eleição federal. Isso dá ao menos uns 10% de largada para qualquer nome que esteja na urna eletrônica pelo partido de Lula.
Naturalmente, há um preço potencial a pagar. A política de alianças com aqueles que acusa de golpistas e a limitação ao surgimento de novas lideranças coloca mais alguns pregos no caixão político petista, mas esse "centralismo democrático" (aspas obrigatórias) está no DNA do partido.
O PT vai insistir até o limite do possível em manter a candidatura do ex-presidente como uma possibilidade. É a estratégia desde sempre, mas os sinais advindos do Tribunal Superior Eleitoral nos últimos dias foram claros no sentido de que a lei deverá ser cumprida e Lula, preso ou solto, não poderá concorrer por ter uma condenação em segunda instância.
A jogada tem seu lado mais óbvio: quebra mais um alicerce da campanha de Ciro, candidato do PDT a presidente. O PSB era a última esperança do presidenciável para ter alguma densidade maior no campo da esquerda e capilaridade nos Estados, sem falar no tempo de TV.
Sem o PSB, Ciro ficará restrito a cerca de 30 segundos por bloco de 25 minutos de propaganda eleitoral no rádio e na TV. O jogo para o pedetista, que já vinha num certo viés de baixa política nas últimas semanas, com percalços de imagem, ficou bem mais difícil. Se um dia sonhou numa aliança com o PT, nesta quarta (1º) acordou sozinho.
Para os pessebistas, o acerto é o melhor possível. Desde que Joaquim Barbosa rejeitou a ideia de concorrer à Presidência mesmo tendo se filiado ao partido e contando com chances razoáveis segundo pesquisas qualitativas, o plano nacional virou mera moeda de troca para seus desígnios estaduais.
O governador Paulo Câmara (PE) tem um cenário complexo na disputa pela reeleição, e o apoio de Lula, que é uma espécie de deidade política no estado, lhe fortalece bastante.
Em São Paulo, onde enfrenta dificuldades enormes, o governador Márcio França terá o argumento de que está colado com Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa —o que desagrada o tucano João Doria, que de todo modo poderá dizer que seu adversário está num partido aliado do PT, o que é palavrão na contenda paulista.
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