Estratégia de confronto não tem conseguido reduzir índices de criminalidade no Estado do Rio
A Polícia Militar considerou positiva a operação que terminou com seis suspeitos mortos, outros três baleados, um PM ferido e uma mulher atingida por estilhaços, ontem, por volta das 5h, num dos acessos à Ponte Rio-Niterói, na antiga capital fluminense. A avaliação, no entanto, deveria ser objeto de reflexão por parte das autoridades de segurança. Na tentativa de capturar um grupo de bandidos que saíra de uma comunidade de São Gonçalo com destino ao Complexo da Maré, policiais do 12º BPM (Niterói) montaram um bloqueio na Alameda São Boaventura.
Sendo a via uma das mais movimentadas de Niterói, não seria difícil imaginar o que poderia acontecer se de fato o “bonde” fosse apanhado. E ocorreu o previsível. Parte do bando, que estava em dois carros, se refugiou sob um ônibus da linha Alcântara-Botafogo, da Viação Fagundes. E o que se seguiu foi uma intensa troca de tiros. No meio do fogo cruzado, o coletivo, em que estavam 38 pessoas, foi alvejado por nada menos que 14 disparos. Uma passageira ficou ferida por estilhaços.
Não se pode dizer que o episódio tenha sido um ponto fora da curva. Na madrugada de ontem, uma megaoperação com a participação de mais de quatro mil homens do Comando Conjunto, nos complexos da Penha, do Alemão e da Maré, na Zona Norte do Rio, deixou pelo menos cinco suspeitos e dois militares do Exército mortos.
Na madrugada do último dia 11, uma paciente de 61 anos foi atingida por uma bala perdida num leito do Hospital Santa Martha, no bairro de Santa Rosa, em Niterói. Não se sabe de onde partiu o disparo, mas testemunhas relataram um intenso tiroteio vindo da comunidade Souza Soares, que fica perto do hospital. A PM admitiu que esteve na favela com o objetivo de impedir um baile funk e que, na ocasião, teria sido recebida a tiros pelos traficantes.
O fato é que as forças de segurança ainda não conseguiram reduzir o risco e a letalidade de suas operações. Estatísticas do ISP mostram um aumento dos chamados homicídios decorrentes de intervenção policial (mortes em confronto). Em julho deste ano, foram 129 vítimas, o que representou um crescimento de 105% em relação ao mesmo mês do ano passado. Nos últimos três meses, a expansão foi de 66% comparada ao mesmo período de 2017.
A quantidade de assassinatos também não tem cedido. Segundo o ISP, em julho foram 408, um aumento de 9% em comparação com o mesmo mês de 2017. Nos últimos três meses, o número não subiu, mas também não caiu, o que preocupa.
É óbvio que as forças de segurança têm de combater a violência, e espera-se que elas façam operações para coibir o crime organizado. Mas só com inteligência e planejamento será possível tornar essas ações mais cirúrgicas e menos letais. Nada há de positivo num dia em que 13 pessoas são mortas no Grande Rio.
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