- Valor Econômico
A TV do Geraldo contra as redes sociais de Bolsonaro
Lula é o grande vitorioso da primeira etapa da campanha presidencial de 2018. O ex-presidente não só se manteve no topo das pesquisas, embora preso em Curitiba há mais de quatro meses, como cresceu e dá indicações consistentes de que realmente pode transferir uma montanha de votos para o candidato do PT que vier a substituí-lo na chapa, no caso o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
A primeira etapa da campanha corresponde ao período desde a negociação para a composição das alianças até o registro das candidaturas, no dia 15. Depois de Lula, o vitorioso é sem dúvida o deputado Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas quando o nome do candidato oficial do PT não é referido. Bolsonaro também se segurou no topo, mostrou resiliência e que não será fácil, para os adversários, deslocá-lo da posição em que se encontra atualmente.
A ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Ciro Gomes (PDT) também podem ser considerados de alguma forma vencedores, porque não despencaram nas pesquisas, durante esse período, e mantiveram mais ou menos as posições de largada. Geraldo Alckmin (PSDB), no qual o centro político apostou praticamente todas as fichas, mal se moveu nos últimos lugares do pelotão da frente, mas só agora efetivamente começará a fazer o jogo que planejou para a etapa final da campanha de 2018.
A segunda etapa da eleição presidencial de 2018 começa na próxima semana, mais precisamente no dia 31 de agosto, quando se inicia a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Como resume uma fonte bem situada na coligação liderada pelo PSDB, o embate será entre "televisão do Geraldo", na qual o candidato deposita sua aposta mais alta, versus "as redes sociais de [Jair] Bolsonaro".
Trata-se, evidentemente, de uma análise de quem tem lado, trabalha pelo candidato tucano e hoje julga que a probabilidade maior é um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro - sem descartar que Ciro e Marina eventualmente podem beliscar um dos dois lugares do pódio. Difícil, no momento em que muda o campo de batalha e Alckmin tem uma infinidade de minutos na televisão, e Ciro e Marina, quase nada. No momento, cerca de dois terços das famílias brasileiras têm na televisão sua principal fonte de informação, ante cerca de 30% que se informam preferencialmente pela internet.
A eleição presidencial está restrita aos cinco candidatos do primeiro pelotão - Fernando Haddad é agora vice, mas avançará para a cabeça de chapa quando a candidatura de Lula for impugnada. São os cinco mais da eleição. É pequena a brecha para a entrada de um dos outros oito candidatos inscritos na competição. O exemplo da eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, há dois anos, tira o sono de muito investidor: a devastação do centro político atingido por denúncias de corrupção e má gestão política levou para o segundo turno o PRB e o Psol, Marcelo Crivella e Marcelo Freixo.
A equivalência, em nível nacional, seria um segundo turno disputado entre Bolsonaro e Guilherme Boulos. Os dois extremos da eleição. Acontece que na eleição do Rio, Freixo já era um político amplamente conhecido, ao contrário de Boulos, que terá pouco tempo para se destacar na propaganda eleitoral, como tem feito nos debates no rádio e na televisão. Mas é um chute como qualquer outro, como se apressam a ressalvar as velhas raposas políticas, tão atônitas com a conjuntura eleitoral quanto qualquer iniciante.
A batalha de Geraldo Alckmin enfim chegou ao campo que ele desejava, o que não torna o desafio menos gigantesco. Ao mesmo tempo em que volta seus canhões para minar e tirar votos de Bolsonaro, torce por outro lado para que Lula não seja capaz de transferir tanto votos quanto os necessários para jogar Haddad no segundo turno. O cenário principal hoje no QG tucano é de um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro. Até dias atrás era de reedição da polarização PT-PSDB. Mas tanto num caso como no outro a estratégia de jogar tudo na propaganda eleitoral gratuita precisa ser certeira.
A história das eleições desde 1989 tem mais de um exemplo de político que contava com o horário eleitoral e com os debates para reverter uma situação desfavorável. O tucano José Serra em 2002 e 2010, por exemplo. E naquela época as redes sociais não dispunham do mesmo poder de influenciar e fazer barulho. Se fracassar na televisão, não será nas redes sociais que ele vai tirar os votos que faltam. Seu desempenho ali é o pior dos cinco candidatos a campeão.
Na última semana, Alckmin atingiu o máximo de interações no Facebook na segunda-feira 16, quando partiu para um ataque em duas frentes contra Bolsonaro e o PT: "Não tem aliança com o PT, nem com o Bolsonaro, meu compromisso é com você!". Foram 6,6 mil interações, 1,65 mil comentários e 1,5 mil compartilhamentos, de acordo com a Socialbakers, empresa de análise de mídia social. Uma análise rápida das incursões dos internautas no território de Alckmin indica que o candidato precisa explicar melhor o que é "esse tal de IVA".
As 6,6 mil interações de Geraldo Alckmin no Facebook podem parecer muito, mas viram pó quando comparadas às de Bolsonaro, no dia 14: 167,5 mil. Em relação ao número de fãs, a diferença chega a ser abissal. Na semana passada, Bolsonaro registrava 5,2 milhões, contra 934 mil do candidato do PSDB a presidente. É muito, mas o responsável na campanha de Alckmin pelas redes sociais, Marcelo Vitorino, lembra que é preciso separar o que é robô do que é engajamento legítimo, um desafio para as agências. Os números relativos a engajamento incluem também participação paga.
O segundo tempo da campanha, a partir do dia 31, começa com uma distinção importante em relação ao primeiro: sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato, para todos os efeitos, será o ex-prefeito Fernando Haddad. Por maior que seja a transferência de votos, Haddad no lugar de Lula definitivamente não é a mesma coisa.
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