Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (Rede), o ex-deputado Eduardo Jorge (PV) defendeu ontem uma reforma no Sistema Único de Saúde (SUS) para promover ganhos de escala e, ao mesmo tempo, melhorar a distribuição de responsabilidades entre União, Estados e municípios. A ideia é implementar uma arrumação que desestimule governantes habituados a "empurrar" pacientes para entes vizinhos.
Jorge propôs dividir o país em 400 "regiões de saúde". O critério para delimitação seria populacional: cada polo responsável pelo atendimento de 500 mil habitantes. Em cidades grandes, uma "região de saúde" poderia abranger vários de bairros. Nas áreas menos populosas, a abrangência agruparia municípios vizinhos. O financiamento de cada área seria compartilhado de forma proporcional entre a União, o respectivo Estado e os municípios atendidos.
Jorge foi um dos formuladores do SUS na Constituinte. Ele fez defesa enfática do sistema e listou conquistas obtidas nas últimas décadas, como a erradicação do sarampo antes de Holanda e Japão. Mas disse que ainda "falta muito" para que se alcance o modelo concebido. Reconheceu que a população tem razão para reclamar.
A dupla falou do tema durante uma visita à ONG Educafro, no centro de São Paulo. "O sistema de saúde precisa ter escala", defendeu Jorge. Depois de citar centros trabalham no limite da capacidade, lembrou que há hospitais pelo país com de ociosidade de 50%.
"Além de gastar pouco, estamos gastando mal", disse. Segundo ele, o Brasil investe R$ 3 por pessoa por dia na saúde, "da vacinação ao transplante". Além da necessidade de disputar mais recursos, ele defendeu fim do aparelhamento partidário no setor, mais investimentos na prevenção e humanização.
Marina reza o Pai Nosso em ato por cotas raciais
Na Educafro, Marina e Jorge se comprometeram com pautas de interesse do movimento negro, como apoio às políticas de ação afirmativa e combate a fraudes nas políticas de cotas de universidades. Após o evento, ela foi levada pelos organizadores a um ato no interior da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. Num hall interno do edifício, sete jovens estão há sete dias acorrentados em protesto contra o governo paulista. Eles defendem a regulamentação de uma lei aprovada em 2015 que estabelece ações afirmativas em concursos públicos do Estado.
Ciente da norma que proíbe campanha em repartição pública, Marina não discursou. Mas posou para fotos, cumprimentou os presentes, acompanhou um discurso do frei David Santos (coordenador da ONG) e rezou um Pai Nosso.
O religioso criticou o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência, e admitiu que estava discursando apesar do pedido de Marina para não falar.
A presença de Marina na sede da secretaria gerou tumulto. Sem saber da visita, seguranças demoraram para permitir a entrada da imprensa, de militantes e de assessores da campanha. Na chegada, ela chegou a ficar presa num corredor de acesso, espremida entre repórteres e cinegrafistas.
Na saída, teve a oportunidade de notar a presença de viaturas e policiais militares que já se concentravam na porta de entrada do edifício ocupado.
Após o ato, o secretário de Justiça, Márcio Elias Rosa, recebeu repórteres em seu gabinete. Ele classificou a causa do Educafro como "legítima", mas criticou o "modo de reivindicação" e a "apropriação política" do protesto. Afirmou que há divergência entre o interesse da ONG e a norma a ser regulamentada. A ideia é aprovar um sistema de pontuação diferenciada para negros em concursos, afirmou. "Mas ele [frei David] quer cota", o que é "juridicamente inviável". Rosa disse que o governador quer resolver a questão em novembro.
Rosa disse ainda que gostaria de ter conversado com Marina quando soube da visita inesperada. Ele pediu para um assessor convidá-la para subir e lamentou a recusa. Mas evitou criticar a presença da candidata em ato nas dependências da pasta. "O propósito dela não foi esse. É uma humanista."
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