Percentual de apoio irrestrito ao regime das eleições diretas foi de 69%, marca mais alta desde o início da série de pesquisas feita pelo Datafolha, em 1989. O índice dos que admitem preferir uma ditadura é o menor registrado
- O Globo
Contrariando a expectativa de que a eleição não despertaria interesse, 2018 mobilizou os cidadãos, como registrado nas fotos de atos de diversas campanhas. Pesquisa do Datafolha revela que 69% dos brasileiros consideram o regime democrático a melhor forma de governo para o país. É o maior índice desde 1989.
O apoio à democracia nunca foi tão grande no Brasil nos últimos 30 anos. Uma pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha mostra que 69% dos eleitores consideram o regime democrático a melhor forma de governo para o país.
Segundo o instituto, o índice é o mais alto desde 1989, primeira aferição da série histórica, realizada durante a primeira eleição direta para a Presidência da República após o fim do regime militar. Em todas as pesquisas desta série, o Datafolha oferece três opções de resposta aos eleitores: “a democracia é sempre a melhor forma de governo”, “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que o regime democrático” e “tanto faz”.
Desde 1989, o maior índice de apoio à democracia havia sido registrado em dezembro de 2014, com 66%, mas em junho deste ano, este percentual já havia baixado. Eram 57% os que diziam preferir o sistema de governo. Em apenas quatro meses, houve um acréscimo, portanto, de 12 pontos percentuais na avaliação positiva do regime democrático. Em setembro de 1989, no primeiro levantamento do tipo, o Datafolha constatou que 43% preferiam a democracia e 18% eram abertos à ditadura “em certas circunstâncias”.
FORTE APOIO DOS JOVENS
Na atual pesquisa, apenas 12% responderam que, a depender das circunstâncias, uma ditadura é preferível em relação à democracia. É o índice mais baixo desta resposta também em toda a série, igualando com o percentual aferido em dezembro de 2014.
Outros 13% afirmaram que “tanto faz” a forma de governo, e 5% não souberam responder. Proporcionalmente, o maior índice de aprovação da democracia foi constatado entre os jovens, nascidos depois da ditadura militar.
No estrato de 16 a 24 anos, 74% dos eleitores concordam que o sistema democrático é “sempre a melhor forma de governo”. Este índice ficou em 64% entre os eleitores com mais de 60 anos.
No corte por escolaridade, o regime com eleições diretas tem menos respaldo entre os menos escolarizados, que estudaram apenas até o ensino fundamental: 55%. Este percentual sobe para 72% entre os que completaram o ensino médico e chega a 84% no segmento mais escolarizado, com ensino superior. A variação foi pequena na comparação por gênero: entre as mulheres, 67% responderam preferir sempre a democracia, opção adotada por 71% dos homens.
Em entrevista ao GLOBO, publicada ontem, a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, destacou que o interesse dos brasileiros pela eleição presidencial havia crescido acima das expectativas nos últimos meses — Em maio de 2018, 42% declaravam não ter nenhum interesse pela eleição. No mesmo período de 2014, eram 30% e, em 2010, 22%.
Nas primeiras pesquisas deste ano, 29% diziam votar branco e nulo. À medida que a campanha foi começando, esse índice baixou para 11%. O que esses números mostram é que a eleição começou com um clima de desinteresse acima do patamar histórico, mas foi revertido.
O Datafolha também fez o cruzamento das respostas a essa pergunta com a preferência eleitoral dos pesquisados na atual eleição presidencial. O apoio irrestrito à democracia ficou em 64% entre os eleitores do líder nas pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro (PSL). Foram 22% os que disseram preferir eventualmente uma ditadura.
Entre os que pretendem votar em Fernando Haddad (PT), a aprovação à democracia é inegociável para 77%, enquanto apenas 6% disseram que podem optar por um regime ditatorial. No grupo de quem votará em Ciro Gomes (PDT), o apoio ao sistema das eleições diretas foi o mais alto, com 81%, contra 5% que cogitariam apoiar uma ditadura. Entre os eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), a aprovação da democracia ficou em 69%, e entre os de Marina Silva (Rede), em 62%.
A atual forma de governo foi estabelecida logo no primeiro artigo da Constituição brasileira, aprovada pela Assembleia Constituinte há 30 anos, em outubro de 1988. O Datafolha realizou 10.930 entrevistas presenciais, em 389 municípios de todos os estados e do Distrito Federal, entre quarta e quinta-feira desta semana, com eleitores de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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