sábado, 6 de outubro de 2018

Doria provoca constrangimentos a Alckmin

Candidato a governador cancela ato com presidenciável em cima da hora

Thais Bilenky, Artur Rodrigues | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Empatado em terceiro lugar nas pesquisas para a corrida ao Planalto, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, enfrentou na campanha uma série de constrangimentos provocados pelo candidato tucano ao governo paulista, João Doria, cuja entrada na política eleitoral ele afiançou.

O mais recente episódio desconcertante aconteceu nesta sexta-feira (5), quando Doria faltou a ato de campanha com Alckmin. A assessoria do ex-prefeito comunicou a imprensa do cancelamento 30 minutos depois do horário previsto para seu início, ao meio-dia.

Doria alegou que ficou preso em Sorocaba, no interior, devido às más condições climáticas para voar. Não suspendeu, porém, a agenda seguinte, em Campinas.

"A campanha está aqui, através do Rodrigo Garcia (DEM), que é o candidato a vice-governador. A nossa aliança está aqui, representada pelo [ministro Gilberto] Kassab, do PSD, e o prefeito de São Paulo, que foi quem organizou, o Bruno Covas (PSDB)", minimizou Alckmin.

"Esse movimento de hoje é para a nossa campanha. Estamos juntos, trabalhando, animados aí. Vamos ter outros eventos ainda hoje em São Paulo", encerrou, sem citar Doria.

O encontro foi marcado na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, lugar simbólico para o tucanato paulista. Foi lá que Mario Covas e o próprio Alckmin deram a largada de campanhas passadas. Doria repetiu o gesto quando disputou a prefeitura, em 2016, com a bênção do então governador.

Tucanos viram a atitude como nova manifestação de ingratidão de Doria em relação ao seu padrinho político. Sem citar Alckmin em debates nem colocá-lo em seus programas de televisão, Doria não chegou a se engajar de fato na campanha presidencial.

O tucano chegou a fazer reparos até em uma das vitrines que o ex-governador cita com mais frequência, a segurança pública. Alckmin costuma citar a expressiva queda dos homicídios no estado. Mas, ainda em julho, Doria já dizia que seria "muito mais duro" que Alckmin na segurança.

Na reta final de campanha, Doria deixou de lado até o protocolar apoio a Alckmin, na tentativa de surfar na onda linha-dura de Jair Bolsonaro (PSL), cujo discurso ele tenta emular. O auge disso foi quando disse que na sua gestão a polícia atiraria "para matar" durante os confrontos.


Nos últimos dias, deixou correr soltas especulações ao aparecer em vídeo com simpatizante do capitão reformado e ter aliados em franca campanha ao adversário do PSDB.

A falta de palanque em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, é apontado como principal motivo para o desempenho de Alckmin na corrida eleitoral.

Alckmin queria apoiar o governador Márcio França (PSB), seu vice e candidato à reeleição, mas foi vencido pela imposição da candidatura de Doria.

Um mês atrás, a seu estilo, Alckmin mandou o seu recado.

Em evento com França, elogiou o sucessor "pela fidalguia de deixar que falasse depois". No primeiro e um dos poucos atos públicos de campanha de Doria e Alckmin juntos, em Taubaté (SP), em agosto, o ex-prefeito foi o último a falar, depois do presidenciável.

O vínculo de Doria com Alckmin na campanha deve acabar oficialmente na próxima segunda-feira (8). Em seu escritório político, às 11h, Doria deve anunciar início da campanha contra Fernando Haddad (PT) e, consequentemente, apoio a Jair Bolsonaro (PSL), em caso de haver segundo turno e de Alckmin estar fora.

No evento, também estarão deputados estaduais próximos de Doria.

A equipe do tucano tem pressa para neutralizar o efeito do anúncio de Paulo Skaf (MDB) de que apoiará Bolsonaro, ainda no primeiro turno. Irritado com a situação, Doria definiu o emedebista como um oportunista por abandonar Henrique Meirelles (MDB).

Nos bastidores, militância ligada à campanha de Doria atua em grupos de WhatsApp na tentativa de convencer bolsonaristas de que o ex-prefeito já está com eles.

Na última semana, Doria exercitou a retórica para mandar o recado que de apoiará Bolsonaro, sem dizer isso com todas as letras. Ao mesmo tempo que quer mandar recado para os eleitores do militar, equilibra-se para não explicitar a traição a Alckmin.

O tucano mudou o discurso padrão que vinha mantendo, de que a eleição se definiria na reta final. Na terça (2), ele publicou em suas redes sociais um vídeo em que afirma que não apoiaria FernandoHaddad (PT) no segundo turno em nenhuma hipótese.

Dois dias depois, seria mais incisivo em evento de campanha na região do Morumbi (zona oeste), quando indicou que votaria em Bolsonaro assim que se livrasse da obrigação assumida com seu padrinho político. "No dia 7, voto no Geraldo Alckmin e peço voto ao Geraldo Alckmin. Mas quero deixar muito claro: a partir do dia 8 de outubro, segunda-feira, voto contra o PT", disse.

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