sábado, 6 de outubro de 2018

Marina chega ao fim da disputa com futuro incerto

Isolada, ex-senadora soma 4% das intenções de voto; para companheiros de partido, candidata se viu obrigada a concorrer

Maria Lima e Jeferson Ribeiro | O Globo

Os marineiros bem que tentaram convencer Marina Silva (Rede-PV) que essa não seria uma eleição para ela. Mas, determinada e acreditando que podia ter chegado sua hora como terceira via de um país dividido, ela insistiu em se candidatar à Presidência pela terceira vez. Ousou até mesmo investir na suavização da imagem e do figurino: abandonou o xale, arriscou um penteado mais moderno com um cabeleireiro argentino, fez tratamento com fonoaudiólogo para empostar a voz, mas não foi capaz de criar um novo discurso para enfrentar a radicalização da disputa de extremos e ficou no limbo entre a esquerda e o centro.

Completamente isolada junto com seu vice, Eduardo Jorge (PV), e com seu capital eleitoral derretendo, a derrota, desta vez, poderá ter um gosto mais amargo. Na reta final entre os nanicos com 4% de intenções de voto, Marina arrisca até mesmo o futuro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, e sai desta disputa com um futuro incerto, muito enfraquecida, para uma quarta candidatura ao Planalto. Listada como uma das 50 mulheres mais importantes do Mundo, Marina conseguiu votações surpreendentes em 2010, pelo PV, com 19,6 milhões de votos, e, embalada pela comoção da morte de Eduardo Campos, no PSB, atingiu seu ápice, com22,1milhõesde votos em 2014.

Mas com cerca de 4% das intenções de votos este ano, estreando na Rede em quinto lugar nas pesquisas, Marina já perdeu cerca de 15 milhões de eleitores, desidratou o apoio entre evangélicos e caminha para sair dessa disputa com sua pior campanha.

QUADRO FRAGMENTADO
O coordenador de programa de governo da Rede, João Paulo Capobianco, diz que quando a ex-senadora estava debatendo a candidatura alguns companheiros recomendaram que ela não concorresse. Esses marineiros argumentavam que pragmaticamente esta eleição não tinha o perfil para Marina ser bem-sucedida, porque haveria um quadro fragmentado de candidaturas, principalmente no centro. — Ela considerou que era uma questão de responsabilidade política concorrer. Não era uma questão pragmática. Se ela se abstivesse neste momento, significaria algo que ninguém perdoaria — contou Capobianco.

Para ele, mesmo tendo do seu lado ativos que, pelo menos em teoria, deveriam atrair os eleitores, Marina enfrentou uma “conjuntura política” adversa, porque o eleitorado está “com raiva” e em busca de soluções imediatistas e propostas populistas, traços que a candidata da Rede não tem. — E o Bolsonaro conseguiu se colocar como defensor da Lava-Jato e antipolítico, o que criou esse fenômeno e construiu esse quadro eleitoral que temos —argumentou. Marina , entretanto, não joga a toalha e acredita numa virada com sua campanha de “Davi contra Golias” ou do “tostão contra o milhão”.

Os poucos aliados ficaram ao lado de Marina até o fim, mas não arriscam a apostar se ela teria fôlego para uma quarta candidatura a presidente em 2022. —Se Marina não se eleger, o futuro será ditado pelo desempenho do eleito. A próxima eleição poderá ter um presidente candidato à reeleição. Até agora, todos se reelegeram —avalia o deputado Miro Teixeira, candidato ao Senado.

Marina se colocou como opção de esquerda para disputar com Haddad e Ciro Gomes (PT), parte do espólio de Lula. Investiu no Nordeste, mas com poucos recursos e estrutura partidária, isso não aconteceu.

Um dos pontos fracos de Marina, criticado por eleitores e especialistas, é sua ausência nos debates políticos entre uma eleição e outra. A falta de base política e a imagem de frágil para assumir as rédeas do governo num momento de crise também ajudar na debandada dos eleitores. Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, o futuro de Marina é incerto e não crê em uma quarta candidatura ao Planalto.

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