Dodge faz discurso com recado a militar reformado, que vai a sessão de aniversário da Constituição
Marina Dias, Ranier Bragon, Gustavo Uribe, Talita Fernandes e Angela Boldrini | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A lista do cerimonial do Congresso tinha cerca de mil convidados para a sessão solene desta terça-feira (6). Mas às 9h50, quando Jair Bolsonaro (PSL) chegou à Câmara, eram poucos os que estavam ali para recebê-lo.
A sessão que comemorou os 30 anos da Constituição de 1988 estava marcada com antecedência e as terças-feiras costumam ser movimentadas em Brasília, mas, desta vez, parlamentares e seus assessores comentavam o baixo quórum diante do sucessor de Michel Temer.
Timidamente aplaudido, Bolsonaro parecia não se importar. Sentado à ponta direita da mesa do plenário, disse que estava feliz em "rever velhos amigos" e "fazer novas amizades".
Acenava ali ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, com quem trocou cochichos durante toda a sessão.
O chefe do Supremo, casa à qual um dos filhos de Bolsonaro disse que bastavam "um cabo e um soldado" para fechá-la, fez um discurso ameno para o presidente eleito.
Disse acreditar que o capitão reformado cumprirá a Constituição. E foi aplaudido por ele.
Já a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, não teve o mesmo destino. Bolsonaro não a olhou nem aplaudiu enquanto a autoridade máxima do Ministério Público Federal dizia que não basta "reverenciar" a Constituição: "É preciso cumpri-la", sentenciou.
Em pé na tribuna, Dodge deu vários recados a Bolsonaro ao defender as minorias, o meio ambiente e a liberdade de imprensa, temas caros a ele.
O presidente eleito teve sua trajetória política baseada em críticas aos direitos humanos, por exemplo, além de estudar agora a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, o que provocou críticas entre ativistas e até entre seus apoiadores do agronegócio.
A favor também do esvaziamento do estatuto do desarmamento, Bolsonaro foi instado por aliados que estavam no plenário a reproduzir com as mãos uma arma, gesto que se tornou marca de sua campanha. Sorriu e o fez rapidamente, mas logo o trocou por um coração formado com os dedos.
Esta foi a primeira vez que Bolsonaro viajou a Brasília desde o fim da eleição —a última foi em 5 de setembro, véspera do atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG).
Pousou perto das 9h de avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e foi direto, em comitiva escoltada pela Polícia Federal, para a Praça dos Três Poderes.
Passou pelo tapete vermelho cercado de seguranças e apoiadores, como o senador Magno Malta (PR-ES), o deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL-SP) e o ex-deputado João Caldas (PSC-AL). Sorriu e acenou, mas, mais uma vez, evitou a imprensa que, até minutos antes do início da sessão, era impedida de ter acesso ao plenário.
Era um pedido da segurança de Bolsonaro. Até então, acatado pela cúpula do Congresso.
Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado, foi quem ordenou o volta atrás e liberou os jornalistas pouco antes de receber o presidente eleito e os chefes dos outros Poderes em seu gabinete, já perto das 10h.
Com quase meia hora de atraso, de lá saíram Eunício, Temer, Bolsonaro, Toffoli, Dodge e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Este, por sua vez, fez vídeos com o presidente eleito. Já demonstrou "convergências" com Bolsonaro em diversos temas e tem se movimentado para ser reconduzido à chefia da Casa.
O presidente eleito deve permanecer em Brasília até esta quinta-feira (8). As reuniões previstas envolvem representantes das Forças Armadas e novos encontros com os chefes dos Três Poderes.
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