- Valor Econômico
General Heleno e deputado Onyx lideram novo Palácio
Qual a metodologia para fazer maioria no Congresso num presidencialismo de coalizão não clássico, que não quer compartilhar o governo com os aliados? O staff de Jair Bolsonaro já indicou que a negociação com deputados e senadores será feita por intermédio de bancadas setoriais, como a do agronegócio e a dos evangélicos, entre outras. Mas essas bancadas querem algo em troca para dividir o ônus de votações impopulares ou o bônus das populares.
É uma experiência a ser adquirida fazendo, para ver como vai funcionar. Ninguém, na equipe do presidente eleito, tem resposta pronta para isso.
Numa das discussões a propósito da maioria sem troca, falou-se do grande teórico da sociologia, Max Weber. Numa sociedade de massa, foi citado, a liderança política que busca resultados precisa ser carismática. Isso significa que o líder, numa democracia, deve usar o apelo carismático que tem para orientar a opinião pública, que por sua vez vai pressionar os políticos e burocratas a fazerem sua vontade. Estaria aí a capacidade do governo Bolsonaro de mobilizar o Congresso.
A sociedade, argumentou-se no debate, sabe que a lógica de políticos e burocratas é trabalhar em benefício próprio. Assim, se não tiver a força carismática do Executivo mobilizando a opinião pública a pressionar, os resultados não saem.
O carisma, porém, já se reconhecia na teoria em discussão, é uma força fugaz. As pessoas têm mais o que fazer, não vão passar meses e anos acampados nas portas e rampas pedindo votação disso e daquilo. Em algum momento os eleitores vão cuidar da própria vida.
Disso já surgiu a constatação, sempre repetida a cada início de governo, que se o eleito não aprovar suas medidas de impacto no Congresso no primeiro ano, não o conseguirá mais. Ou conseguirá, a um preço muito alto.
Ontem, Paulo Guedes, indicado ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro, acenou com a possibilidade de a nova administração fazer uma negociação partido a partido para aprovação de sua agenda mais urgente e importante, mas não individualmente. Como convencer os partidos, não disse. Nesse ponto o modelo parece o que está em vigor, mas dizem na equipe que não é.
Nessa primeira semana de Bolsonaro eleito, ficou claro quem são seus braços direitos na condução das relações com o Congresso e na concepção das políticas interna e externa, além da formação de governo. O deputado Onyx Lorenzoni vai promover a articulação política e o general Augusto Heleno, seja do Ministério da Defesa, se para lá for, ou do Gabinete de Segurança Institucional, onde ficará mais perto do presidente, com gabinete no Palácio do Planalto, o principal conselheiro de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro deu publicidade a algumas ideias improvisadas de amigos, ou dele mesmo, das quais depois recuou por sugestão do general Heleno. "Ele está tomando doses maciças de general Heleno na veia", comentou um interlocutor.
Muitos o consideram o maior estrategista que surgiu após Golbery do Couto e Silva. Exagero ou não, o general está dando palpite em tudo, o que já provocou a primeira crise de ciúmes no novo governo que sequer tomou posse: o general Hamilton Mourão, eleito vice-presidente, estaria achando Augusto Heleno espaçoso demais, e teria preferido que ficasse na Defesa e não no GSI, para influenciar menos o presidente pela distância física da sede dos dois gabinetes.
O general Heleno, na Defesa, teria também a missão de falar com autoridade para a caserna, onde é muito respeitado. Ontem Bolsonaro sinalizou que outro militar pode fazer isso, deixando Heleno para o gabinete do Palácio do Planalto.
Ali, o general Heleno terá uma função mais política que técnica. Fora o fato de que sua importância está ligada também ao fato de ser um moderador na equipe de Bolsonaro.
Há duas semanas, bem perto da votação em segundo turno, o núcleo de infraestrutura da campanha se encontrou em uma casa no Lago Norte, quando foram feitas as apresentações do programa do governo Bolsonaro para todos os setores, estradas, hidrovias, energia, telecomunicações, saneamento. Antes de começar a reunião, o general Heleno recebeu no celular um telefonema de Bolsonaro. O general não pediu que o grupo saísse da sala, nem ele saiu. Assim, todos puderam ouvir, pelas suas respostas, do que se tratava. Heleno aconselhava Bolsonaro a ter calma, ficar tranquilo, ter cuidado com os temas das relações externas. Explicou que transferência da sede da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém era coisa muito séria, que saída de acordo de Paris ou qualquer outro acordo internacional não é algo que se faz sem longo debate, e que declarações sobre a China deviam esperar definições de política e ministro das Relações Exteriores.
Bolsonaro já admitiu, em entrevistas anteontem, que está "namorando" os nomes para o Itamaraty, cuja escolha deve apressar. Foram sugeridos ao presidente eleito uma lista de três embaixadores do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, Sergio Amaral e Rubens Barbosa, outro nome é o embaixador no Canadá Pedro Bretas, e um forte concorrente, apesar de mais jovem e por isso mesmo menos experiente, Ernesto Fraga Araújo.
No momento, Ernesto Araújo dirige o Departamento de Estados Unidos, Canadá e OEA do Itamaraty. É considerado, do ponto de vista de visão do mundo e ideologia, o mais próximo de Bolsonaro entre todos. "Ele é antiglobalista", define um dos próximos auxiliares. O que teria ficado exposto em artigo sobre Trump e o Ocidente, publicado em revista do Itamaraty.
Onyx Lorenzoni não teria a formação e ascendência do general Heleno, mas entraria com todo o poder na articulação com o Congresso.
Na sua carreira parlamentar, Lorenzoni pertenceu ao baixo clero e nunca teve uma liderança própria. É considerado estourado e com inimizades adquiridas quando relatou as dez medidas anticorrupção. Mas é quem Bolsonaro tem e quer para a tarefa. Onyx se expôs quando ninguém queria ser visto ao lado de Bolsonaro, ficou com ele desde o início, contra o seu próprio partido, onde teve momentos de stress absoluto com vários colegas, e isso marcou muito a consideração de Bolsonaro com ele.
Heleno vai ser o conselheiro em todas as dúvidas. Apesar de paranaense, foi criado no Rio e tem jogo de cintura imenso. Onyx é o companheiro de primeira hora designado para a articulação da maioria no Congresso. Assim começam a se formar as influências no Palácio do presidente eleito.
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