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De volta à realidade
Fora a oposição de carteirinha à esquerda, nenhum partido ou agrupamento ousa declarar que estará do lado contrário do governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas fora o PSL que hospeda Bolsonaro, e que só cresceu por causa disso, também nenhum partido ou agrupamento antecipa que estará ao lado dele. Na melhor das hipóteses, fala-se em apoio crítico ou em apoio sem renúncia à independência.
No seu primeiro dia de volta a Brasília, Bolsonaro conferiu que não terá vida fácil a partir de janeiro próximo. Gostaria que o Congresso atual aprovasse a versão mínima da reforma da Previdência proposta pelo presidente Michel Temer e emendada se fosse o caso. Ouviu dos líderes políticos que não será possível. Ficará para quando ele suceder Temer, e mesmo assim sem garantia de que a reforma será aprovada.
Mesmo no partido de Bolsonaro há resistências a ela. Há resistências em todos os partidos, na Câmara e no Senado. Especialmente na Câmara. Uma velha raposa política, que há mais de 12 anos convive com seus pares, chama a atenção para um tipo informal de bancada que poucos costumam levar em conta – a dos deputados novos que daqui a dois anos pretendem se candidatar a prefeito nos seus Estados.
Essa turma não quer nem ouvir falar em aprovação de reformas que possam lhe custar votos no futuro. O pior dos mundos seria concorrer como a turma – ou parte dela – que ajudou a aprovar reformas impopulares. Juntem-se aos aspirantes a prefeito os dispostos a não dar tréguas ao governo – algo estimado em 156 deputados de um total de 513. O que sobra é pouco além de o mínimo necessário para aprovar emendas à Constituição (308).
Bolsonaro carece de candidatos para chamar de seus com chances de disputar as presidências da Câmara e do Senado. Ao deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), vice-presidente da Câmara e candidato a presidente, Bolsonaro disse pouco antes da sessão que celebrou os 30 anos da Constituição de 1988: “Sei de sua candidatura, pode ir em frente. Não vou me meter na eleição na Câmara”. Ramalho saiu radiante.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente e candidato à reeleição, cobiça o apoio de Bolsonaro. Mas sua força é também sua fraqueza: Maia é o candidato velado do PT e do PC do B a presidente, embora conte também com apoio dentro dos partidos do chamado Centrão. É por isso que não inspira confiança no círculo de auxiliares mais chegados a Bolsonaro. O presidente ideal da Câmara seria aquele que “tratorasse” a oposição.
Candidato a presidente do Senado embora negue, Renan Calheiros (PMDB-AL) acenou para Bolsonaro e recebeu em troca um aceno do filho do presidente eleito senador. O PSL dispõe ali seis senadores de um total de 81. O PMDB é majoritário no Senado. O ministro Moreira Franco, das Minas e Energia, já se ocupa em ajudar Renan a se eleger reaproximando-o do presidente Michel Temer e fazendo a ponte com governadores eleitos.
Pareceu ensaiado o coro de vozes que saudaram mais um aniversário da Constituição e a visita feita por Bolsonaro ao Congresso onde viveu os últimos 30 anos de sua vida. A palavra de ordem foi: exaltar a Constituição e o compromisso que todos devem ter com ela. Pouco à vontade, Bolsonaro respondeu aos discursos com um exemplar da Constituição nas mãos e renovou seu voto de respeitá-la acima de tudo, menos de Deus, é claro.
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