- Folha de S. Paulo
Melhora financeira leva bancões a estimar crescimento razoável em 2019
A alegria dos povos do dinheiro arrefeceu depois da eleição, quando tiraram o bode político do mercado. O ânimo balança, mas não cai. Por ora, basta até para estimular previsões mais otimistas para a economia em 2019, como crescimento de 2,5% e Selic estável. A condição, como está todo o mundo enfadado de saber, é que venham reformas.
Juros, dólar, Bolsa e risco-país voltaram a níveis pré-campanha eleitoral. Em alguns casos, voltaram aos bons patamares em que estavam em março, quando o caldo começou a engrossar, então por causa de problemas externos (Donald “Nero” Trump, juros americanos, Turquia e Argentina indo à breca etc.).
Os departamentos de pesquisa econômica de Bradesco e Itaú elevaram suas estimativas de crescimento. O motivo mais recente do discreto otimismo é a melhora das condições financeiras no mercado, por sua vez estimulada por uma esperança nada discreta de que virão reformas.
“Olhando à frente, elevamos a projeção do crescimento do PIB em 2019 de 2% para 2,5%. A mudança é consequência da perspectiva de condições financeiras mais expansionistas, em particular com juros de mercado mais baixos e preços de ativos (por exemplo, ações) mais elevados”, dizem os economistas do Itaú, chefiados por Mario Mesquita.
No caso do Bradesco, a estimativa de crescimento da economia passou de 2,5% para 2,8%. Os economistas do Safra, chefiados por Carlos Kawall, já acreditavam em crescimento de 3% fazia um tempo.
Com a ociosidade da economia, famílias e empresas menos endividadas, inflação baixa e melhoras no crédito, “é possível dizer que, se a agenda de reformas econômicas relevantes para o país avançar, ... é provável que a melhora de condições financeiras que se observou nos últimos meses, com queda de juros, apreciação do câmbio, queda do risco país e alta na Bolsa, traduza-se em maior crescimento”, dizem os economistas do Bradesco, chefiados por Fernando Honorato Barbosa.
O pessoal do Itaú está animado com a inflação a ponto de ter revisto sua previsão para a taxa de juros. Expectativas de inflação comportadas e ociosidade devem fazer com que o Banco Central deixe a Selic em 6,5% até o fim do ano que vem.
Até agora, os economistas do Itaú previam que a Selic passaria a subir em meados do ano até chegar a 8% no fim de 2019 —seus colegas do Bradesco continuam com essa opinião. Para o Safra, a Selic vai a 7%.
A taxa de desemprego média continuaria quase na mesma em 2019, perto de 12%. No caso de PIB melhorzinho, decerto haverá mais gente ocupada, mas também mais pessoas procurando emprego. Difícil que o salário médio reaja de modo relevante.
Ao menos nas estatísticas, Bradesco, Itaú e Safra não colocam fé na promessa de Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia, de zerar o déficit primário, que ainda seria de mais de 1% do PIB em 2019. A fim de contrariar essas estimativas, o uberministro de Jair Bolsonaro precisa arrumar receitas ou diminuir despesas no valor de uns R$ 90 bilhões. Difícil.
Enfim, essa alegria discreta vai virar muxoxo e, a seguir, ranger de dentes, choro e fúria se as reformas forem para o vinagre, caso não se apliquem primeiros socorros básicos e sabidos na economia.
Sem mirabolâncias, em especial na Previdência, dá para tirar o elefante morto da crise do meio da sala. Com megalomanias e falta de tato político-administrativo, a ressaca pode começar antes das festas de fim de ano.
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