Presidente faz pronunciamento curto, objetivo e trata de temas de interesse dos investidores externos
Na primeira viagem internacional, há 20 dias da posse, o presidente Jair Bolsonaro mostrou um perfil distante daquele candidato radical da campanha, e assumiu posições diferentes de teses ultranacionalistas defendidas por ministros seus.
Foi um discurso curto, objetivo, sobre temas da agenda dos investidores estrangeiros: reformas, meio ambiente, corrupção, respeito aos contratos, combate à burocracia, também para melhorar o ambiente de negócios e assim por diante.
Não poderia ser diferente. Davos, nos Alpes suíços, onde ocorre anualmente o Fórum Econômico Mundial, é forte símbolo da globalização, tão combatida pelo nacional-populismo do presidente Trump e pela ultradireita europeia.
O que não impede que Trump, impossibilitado de ir ao encontro devido ao shut down da administração americana, tenha despachado para a Suíça o secretário de Estado Mike Pompeo, para representá-lo. Davos não pode mesmo deixar de ser considerado por qualquer país sério.
No pronunciamento que fez e nas respostas às poucas perguntas que lhe dirigiu Klaus Schwab, presidente do Fórum, Bolsonaro demonstrou um bem-vindo pragmatismo na abordagem de temas essenciais para o país.
Por exemplo, ao ressaltar que o Brasil quer se abrir ao mundo — boa notícia, devido à longa história de clausura autárquica do país —, e praticar políticas sem “viés ideológico”. Algo que não rima com a visão de mundo que o chanceler Ernesto Araújo expôs ao assumir.
O presidente não demonstrou qualquer restrição à globalização, que seguidores de teses hipernacionistas, como Araújo, acusam de ser responsável pelo “globalismo”, posição política abjurada pela extrema direita nacionalista.
A correta defesa de ações sem condicionamentos ideológicos, feita pelo presidente brasileiro, já começa a ser testada na questão da ideia da mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, contra os interesses árabes, seguindo os Estados Unidos, mas que têm recursos de poder para tal.
Já o Brasil é grande exportador de proteína animal para países muçulmanos, e pode ser retaliado com facilidade. O governo saudita, por sinal, ontem suspendeu importações de alguns frigoríficos brasileiros. Parece um alerta.
Bolsonaro, com acerto, se referiu ao meio ambiente, à agricultura e à pecuária, temas sensíveis também ao mundo dos negócios, fazendo a defesa da compatibilidade entre preservação ambiental e atividades produtivas.
O presidente mencionou três ministros — Ernesto Araújo, Paulo Guedes e Sergio Moro — , tornando-os referências no seu governo, e, na prática, assumiu compromissos com a agenda liberal na economia, o que também significa proteger sua administração de certos cacoetes da agenda mundial da extrema direita. Será avaliado pelo que disse em Davos.
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