Delação de ex-ministro pode ajudar a iluminar outra parte do subterrâneo financeiro do PT
Hábil, afável, o médico Antonio Palocci passou pelo teste de governo com louvor, ao assumir o Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula, dando respaldo a uma equipe “neoliberal”, em que estavam, entre outros, Henrique Meirelles e Joaquim Levy.
O grupo foi responsável por debelar a inflação e a recessão causada s pelo choque no mercado de más expectativas criadas pela chegada do PT ao Planalto. Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, agiu como maestro.
Em outro polo do lulopetismo estava José Dirceu, de figurino pessoal e ideológico diferente, com espírito de guerrilheiro, protótipo de estrategista e aspirante a intelectual orgânico.
Logo se viu denunciado no escândalo do mensalão. Já o prazo de validade de Palocci foi um pouco mais longo, e começou a se esgotar na descoberta de uma conexão lobista de Ribeirão Preto, instalada em uma casa em Brasília frequentada pelo ministro.
Não o impediu de ser colocado por Lula no posto-chave de chefe da Casa Civil no primeiro governo Dilma, cuja campanha eleitoral conduziu. Dirceu, condenado como mensalista, terminou preso. Palocci não resistiu às suas traficâncias no mundo empresarial e também foi encarcerado, mas, ao contrário de Dirceu, resolveu contar o que sabe em troca do alívio de sentenças.
Assim, o país tem oportunidade de conhecer detalhes de um lado ainda pouco desvendado de operações financeiras petistas no subsolo de fundos de pensão de estatais e mesmo de empresas públicas.
O Ministério Público Federal da força-tarefa da Lava-Jato não aceitou oferta de colaboração premiada do ex-ministro, por não confiar em que ele contaria de fato tudo. Mas o Supremo reconheceu prerrogativas da Polícia Federal para negociar esses entendimentos, e Palocci já fechou dois acordos com a PF, em Curitiba e Brasília.
Um terceiro foi fechado com o MP, em Brasília, dentro da Operação Greenfield, que vasculha a atuação de Lula para que os fundos de pensão dos funcionários da Caixa e da Petrobras (Funcef e Petros) entrassem como acionistas da Norte Energia, responsável pela hidrelétrica de Belo Monte.
A contribuição pode ser esclarecedora sobre como o PT, por meio do seu braço sindical, a CUT, atuou em fundos de pensão sob seu controle para facilitar negócios que gerariam propinas para o partido e petistas pessoas físicas.
É importante a contribuição de Palocci, porque fundos de funcionários de estatais também atuaram em outros grandes negócios, como o da Sete Brasil, mais uma fonte de propinas. Tratava-se de mirabolante empreendimento, também com a participação da Petrobras, para construir sondas que seriam alugadas à estatal.
O projeto gerou bilhões em prejuízos, inclusive aos mesmos Funcef e Previ. Esta é outra caixa-preta do lulopetismo ainda a ser aberta.
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