- Folha de S. Paulo
Taxas de longo prazo recuam rápido em 2019, sinal de confiança em reforma da Previdência
Os donos do dinheiro grosso parecem otimistas com o futuro imediato da economia. É o que se pode observar na melhor pesquisa da opinião de credores do governo e de investidores em geral: as taxas de juros de longo prazo, que caem rápido.
Negociantes de dinheiro e economistas da finança dizem que isso seria uma antecipação do sucesso da reforma da Previdência, da qual pouco sabemos e de tramitação ainda incerta e distante, para piorar. Mas parece que a turma acredita que o Congresso vai aprovar ao menos uma reforma parecida com a de Michel Temer, em termos de contenção de despesas.
A valorização do real desde o fim do ano passado deve ter ajudado um tico na melhoria do ambiente no mercado —o dólar passou dezembro perto de R$ 3,90 e está agora pela casa dos R$ 3,70. Mas algo mais aconteceu além de câmbio.
As taxas de juros longos baixavam desde meados de dezembro. Continuaram a baixar até um pouco mais rapidamente nesta primeira semana de negócios de 2019. Trata-se aqui de juros no atacadão de dinheiro, de negócios entre bancos ou do custo de empréstimos para o governo, grosso modo.
São as taxas que servem de referência para o preço que grandes empresas pagam para levantar capital no mercado. Se menores, em tese são um estímulo para investimento em expansão ou criação de empresas.
“Longo prazo” significa aqui mais de dois anos, pelo menos. Em prazos algo mais compridos, as taxas voltaram a níveis de um pouco antes de junho de 2013, o ano em que fomos de vez para o vinagre, da economia à política.
Em abril, antes da campanha eleitoral e de transtornos na finança lá fora, as taxas chegaram a triscar brevemente esse patamar mais baixo. Com o tumulto, acabou o refresco.
A taxa de curto prazo, na prática orientada pelo Banco Central, anda de lado, ancorada aparentemente pela crença de que a Selic vai ficar no mesmo lugar por muito tempo ainda, pelo menos até setembro.
Além do mais, não se conhece ainda o jeitão da nova diretoria do Banco Central. Inflação baixa, dólar calmo ou até em queda e reformas podem, no entanto, levar também a Selic para baixo.
Note-se que essas são hipóteses que pressupõem um ambiente calminho lá fora.
Isto é, Donald “Nero” Trump não colocaria fogo no mundo, os mercados financeiros americanos não teriam chiliques ou infartos e a China não cairia pelas tabelas —por ora, o patamar de crescimento da economia parece baixar outra vez por lá.
Como sabe qualquer leitor de jornal ou observador do preço do dólar, esse cenário rosa, ou azul, pode ficar cinza de hora para outra. Na semana que vem, uma turma pode achar que os títulos ficaram caros demais, vendê-los, embolsar o ganho e elevar os juros, pelo menos à espera de uma notícia mais objetiva do teor da reforma da Previdência ou da capacidade política do governo Jair Bolsonaro de tocá-la adiante.
Ainda assim, mesmo nessa confusão nebulosa dos primeiros dias bolsonarianos, os povos dos mercados opinam, por meio dos preços, que estão confiantes.
Talvez o ministro Paulo Guedes (Economia) pudesse sair por aí com um gráfico da curva de juros no bolso, para fazer propaganda.
Se uma hipótese de reforma deu um talho nos juros, a aprovação da mudança faria um serviço ainda melhor —será tanto menos difícil aprovar uma reforma quanto menos mirabolantes forem as ambições e menos disparatado ou ignaro for o governo.
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