- Folha de S. Paulo
Histórico de anúncios estapafúrdios e revisões já se tornou folclórico e tema para humoristas
O governo de Jair Bolsonaro tem repetido um padrão de idas e vindasque transmite a sensação de desentrosamento e despreparo de boa parte da equipe —e reflete a falta de convicção ou de conhecimento do próprio presidente acerca de temas variados.
Os mais recentes lances desse vaivém foram o recuo da ordem de paralisação da reforma agrária e o passo atrás na nova versão do obscuro edital para a aquisição de livros escolares, que abolia até mesmo a necessidade de o conteúdo se basear em fontes bibliográficas.
O histórico de anúncios estapafúrdios e revisões, que mais parecem pegadinhas, já se tornou folclórico e tema para chargistas e humoristas. No afã de demonstrar que promessas de campanha serão entregues, o presidente e seus assessores não perdem tempo para refletir. Convencidos de suas mistificações ideológicas, agem. E, quando confrontados com a evidência do disparate, dão meia-volta.
Antes mesmo da posse, lembre-se, a anunciada fusão entre os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente saiu rapidamente de cena, contestada pelos próprios representantes do agronegócio a quem o Mito pretendia agradar.
Em outras reviravoltas o que se evidencia mesmo é a bagunça mais básica, como se viu no anúncio presidencial de que haveria aumento de tributo sobre operações financeiras e revisão dos critérios do Imposto de Renda —declarações que provocaram corre-corre da equipe econômica e do ministro da Casa Civil para dizer que o homem havia se equivocado.
Embora formalmente mantida, a contestada decisão de mudar a embaixada brasileira para Jerusalém também corre o risco de ser abandonada e cair no esquecimento.
Alguém poderá argumentar que os recuos revelam a disposição do presidente de não insistir em erros. Pode ser, mas é difícil apagar a impressão de que o piloto está pronto para cometer grandes barbeiragens —inclusive em manobras das quais não irá recuar.
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