Façanha tecnológica aproxima os chineses dos americanos em termos de poderio espacial
A seis meses de o mundo comemorar os 50 anos da chegada dos astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin à Lua, quem festeja é a China. A potência asiática rival dos EUA não só pousou a 2 de janeiro na face oculta do satélite, feito inédito, como ali realizou um experimento biológico pioneiro.
Era modesta a carga viva da nave Chang’e-4 (nome de uma divindade lunar): sementes de batata, leveduras e ovos de mosca. As plantas germinaram, dando início a uma diminuta biosfera e fornecendo a prova de princípio de que é possível cultivar vegetais na Lua.
Nada que se compare a levar e trazer seres humanos, como fez a Nasa (agência aeroespacial dos EUA) meio século atrás. A façanha tecnológica de 2019, porém, aproxima os chineses dos americanos em termos de poderio espacial.
Várias nações já puseram artefatos em solo lunar. Mas, por enquanto, só a China o fez na parte do astro inacessível para observação desde a Terra (resultado da sincronização de seus movimentos).
Um dos obstáculos está na própria massa da Lua, que bloqueia sinais de rádio. Engenheiros chineses o contornaram lançando um satélite repetidor em órbita e, com seu auxílio, moveram pelo terreno da cratera Von Karman um jipinho batizado Coelho de Jade.
Em 2003, a potência asiática tornou-se a terceira a lançar homens no espaço (taikonautas), depois dos EUA e da Rússia (ou melhor, URSS). O programa espacial chinês contou com US$ 11 bilhões em 2017, contra US$ 19 bilhões da Nasa —que anda afastada da Lua e tem terceirizado parte da empreitada espacial para o setor privado.
O interesse da China no satélite acompanha o de outros países. Índia, Israel e Alemanha devem pousar sondas lá neste ano; artefatos russos e japoneses os seguirão no princípio da década de 2020.
Os chineses voltarão à Lua ainda em 2019, em missão mais complexa para trazer amostras à Terra. Também planejam lançar uma estação espacial, montar base em solo lunar e enviar uma nave não tripulada a Marte nos anos 2020.
A ambição parece evidente: equiparar-se aos EUA, ou ultrapassá-los, em tecnologia espacial —algo que sempre acompanhou de perto o poderio militar.
Ressurge na Ásia, assim, um modelo de exploração que no passado foi mais motivado pela Guerra Fria do que pelo conhecimento propiciado por experimentos a bordo de naves espaciais.
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