sábado, 19 de janeiro de 2019

Aumenta a pressão externa para mudança de governo na Nicarágua: Editorial | O Globo

Como sanção política, EUA estão decididos a excluir o país do regime de preferências comerciais

Há 40 anos, ativistas unidos na Frente Sandinista de Libertação Nacional deflagraram uma insurreição em Manágua, capital da Nicarágua. Foi uma resposta política ao assassinato de Pedro Joaquín Chamorro, proprietário do jornal “La Prensa”, e um dos responsáveis pela aliança das oposições contra a dinastia ditatorial da família Somoza. O regime caiu 22 semanas depois. Foi substituído por uma Junta de Governo coordenada por Daniel Ortega, representante de um grupo de cristãos-marxistas de classe média abrigado na FSLN.

Por ironia, Ortega governa hoje em circunstâncias políticas que, em muitos aspectos, são similares às de Anastasio Somoza Debayle, o “Tachito”, último dos três integrantes da dinastia iniciada pelo patriarca Somoza García, o “Tacho”, em 1936. Ortega, de 73 anos, partilhou o Estado com sua mulher, Rosario Murillo, a quem os nicaraguenses atribuem o efetivo controle do governo. Como os antigos Somoza, o casal Ortega-Murillo transformou a Nicarágua numa espécie de fazenda, cercada de soldados e milicianos.

A corrupção deu origem a uma fortuna familiar assentada em negócios com petróleo da Venezuela, refino de combustíveis, distribuição de energia, gado, hotéis, rádios e três emissoras de TV. Ao estilo somozista, nos últimos dez meses deixaram 350 mortos e mais de dois mil feridos nas ruas das maiores cidades, além de prender 740 pessoas, das quais 54 são mantidas “em condições sub-humanas e em prisão diferenciada” — registram a Igreja Católica e entidades como o Comitê Pró-Liberdade de Presos Políticos.

O confronto é crescente e levou a OEA a preparar sanções ao governo da Nicarágua, com possibilidade de expulsão, algo que não se fez a Cuba no auge da Guerra Fria.

Sem a ajuda dos petrodólares da Venezuela chavista, pois as exportações àquele país caíram 82% em valor em 2018, o regime de Ortega-Murillo ficou absolutamente dependente dos EUA, para onde seguem dois terços das mercadorias exportadas. O problema é que a Casa Branca está decidida a excluir a Nicarágua do regime de preferências comerciais como sanção política, em coordenação com a OEA. Resultaria num colapso econômico, com perdas imediatas de US$ 3 a US$ 4 bilhões anuais. Como os Somoza, ao casal Ortega-Murillo restam cada vez menos alternativas. E todas as que sobraram têm como premissa a queda.

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