É pequena a fatia da população que apoia grande número de teses de Jair Bolsonaro
Se ainda não o fizeram, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu entourage terão muito a ganhar com a leitura atenta de análise que este jornal publicou na terça-feira (15), feita a partir dos resultados da pesquisa Datafolha divulgada ao longo das últimas semanas.
Elaborado por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, respectivamente diretor-geral e diretor de Pesquisas do instituto, o texto aponta para um descolamento entre a agenda mais ideológica do presidente e a opinião pública brasileira.
Esse afastamento, ao menos numa primeira visada, nada tem de natural. Não faz nem três meses que Bolsonaro obteve 55% dos votosnuma disputa marcada pelo acirramento das diferenças, e não pelo esforço de aparar arestas que o segundo turno costuma estimular.
Assim, seria de esperar que o apoio majoritário dado ao então candidato se traduzisse em ampla simpatia por suas posições, todas elas sobejamente alardeadas.
Isso não ocorre, porém. A estratificação da amostra do Datafolha permite dividir os eleitores segundo a adesão a alguns temas bolsonaristas, como redução de leis trabalhistas, facilitação do acesso às armas, diminuição de terras indígenas e controle de imigrantes.
Resultam três grupos: o dos que concordam com no mínimo 9 de 13 teses apresentadas, o dos que endossam de 5 a 8 e o dos que respaldam no máximo 4.
O menor deles, com 14% dos entrevistados, é justamente o primeiro, formado pelos defensores mais fiéis do ideário do presidente. O segundo conjunto corresponde a 55% da população, e o terceiro, a 31%.
É fácil explicar essa discrepância. As propostas do candidato constituem apenas um dos fatores que compõem a decisão do voto, ao lado de características como competência percebida e consciência de classe. Em 2018, os sentimentos de mudança e de oposição radical ao PT também tiverem grande peso.
Ou seja, Bolsonaro se elegeu não só por causa de suas ideias, mas também a despeito delas.
O lembrete vem a calhar num momento em que o presidente, sem nem ter tido tempo de esquentar a cadeira no Palácio do Planalto, enfrenta dissabores em outra frente relevante na disputa de 2018: o combate aos privilégios e à corrupção.
Se quiser preservar níveis elevados de apoio popular, Bolsonaro precisará não só agir conforme as expectativas de moralização da política, mas também escolher as batalhas que pretende travar.
Mais ainda, terá de demonstrar maior receptividade aos veículos de comunicação em geral, especialmente àqueles que se propõem a funcionar como praça pública, na qual as mais variadas vozes se expressam e se encontram.
Afinal, ele não foi eleito por apenas 14% da população e muito menos escolhido como presidente de sua bolha nas redes sociais. O desafio de Bolsonaro, agora, é olhar para o país como um todo —o que exige boa dose de moderação.
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