- Folha de S. Paulo
República Corporativa do Brasil impõe desafio ao governo Bolsonaro
“Você aceitaria a retirada de algum direito?”, pergunta candidamente o novo comandante do Exército, general Edson Pujol. O questionamento do general resume o poderoso lobby desencadeado por servidores públicos civis e militares contra a inclusão das corporações na reforma da Previdência.
Acabar com os privilégios nas aposentadorias desses servidores, como Jair Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes prometeram durante a campanha, é o maior desafio do novo governo para aprovar a reforma, o carro-chefe da equipe econômica.
Nas últimas décadas, a disparidade entre o valor das aposentadorias no setor privado regidas pelo INSS e as da república fardada e togada, é um escândalo federal, principal responsável pelo rombo total de R$ 218 bilhões previsto para este ano no Orçamento.
Só para cobrir o déficit bilionário dos militares, o governo gastará, em 2019, R$ 113,6 mil para pagar cada um dos 381 mil inativos e pensionistas.
Enquanto isso os 27,7 milhões de brasileiros aposentados pelo INSS custarão apenas R$ 7,9 mil por pessoa, 14 vezes menos do que um militar.
Apesar disso, na proposta de reforma já enviada ao Congresso por Michel Temer, que o novo governo agora quer reapresentar, os cortes de benefícios estão concentrados apenas nos aposentados pelo INSS, obrigados a trabalhar por mais tempo para ganhar menos.
A aposentadoria dos militares, que vão para a reserva com salário integral, ficou de fora do projeto original e, se depender deles, assim deve continuar, como deixaram claro todos os ministros requisitados nas Forças Armadas, um terço do total.
Capitão reformado do Exército aos 33 anos, Bolsonaro tornou-se o principal líder sindical dos militares no Parlamento nas últimas três décadas. De que lado ficará agora: dos seus colegas de farda ou da equipe de Paulo Guedes, cujo principal objetivo é o equilíbrio fiscal?
Vimos recentemente também o poder dos marajás do Judiciário, que arrancaram um aumento de 16% no momento em que a nova ordem prega o corte de despesas.
Além das aposentadorias integrais, as corporações incorporam nos salários todos os penduricalhos previstos em seus regimentos internos, o que torna comuns vencimentos entre R$ 50 mil e R$ 100 mil num país em que o salário mínimo mal chega a R$ 1.000.
Ainda nesta semana, tivemos um bom exemplo disso: Bolsonaro embolsou da Câmara um auxílio-mudança de R$ 33,7 mil para mudar do seu apartamento funcional, em Brasília, para o Palácio da Alvorada, em Brasília.
Com o Carnaval chegando, a República Corporativa do Brasil pede passagem.
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