Ministro culpa presidente por sua demissão; general é cotado para o cargo
Fora do governo depois de bater de frente com Carlos Bolsonaro, Gustavo Bebianno culpou o presidente pela sua saída, informa LAURO JARDIM. “O problema não é o pimpolho, é o Jair”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência a interlocutores: “É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil”. Em declarações públicas ontem, admitiu que deve ser exonerado e disse estar “perplexo” com o tratamento que recebeu. O general Floriano Peixoto é cotado para assumir o cargo.
Um ministro perplexo: “acredite no que quiser”
Prestes a ser demitido, Bebianno diz ter passado por humilhação pública
Renata Mariz e Jussara Soares | O Globo
BRASÍLIA - Com a demissão selada, o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, disse estar “perplexo” com as decisões de Jair Bolsonaro durante a crise que levou à sua saída, lançou indiretas em rede social sobre “deslealdade” e insinuou que o presidente recebeu informações incorretas durante a internação. A demissão deve sair oficialmente amanhã, segunda-feira, o que prolonga seu desgaste no cargo. Na madrugada de sábado, o ministro reproduziu um texto da internet dizendo que pessoas desleais viverão “esperando o mundo desabar na sua cabeça”.
— Não sou eu que dispenso o tratamento, eu estou recebendo o tratamento com perplexidade. Quem dispensa o tratamento é que tem que explicar os seus motivos — afirmou ontem a jornalistas.
Nas últimas horas em que deve permanecer no cargo, o ministro pretende conversar com aliados, assessores e amigos para traçar a estratégia da sua saída. Magoado com Bolsonaro, ele avalia que a fritura da última semana o expôs a uma humilhação pública. Bebianno, que se aproximou do presidente como um fã, tem sido aconselhado a falar o menos possível em uma ação de contenção de danos.
Com a exoneração de Bebianno prevista para ser publicada no Diário Oficial da União amanhã, o general Floriano Peixoto, secretário-executivo, deve assumir a pasta interinamente. Esvaziado ainda durante a transição, Bebianno se cercou de militares em seu gabinete. A iniciativa foi vista como uma forma de se blindar dos ataques do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, de quem se tornou um desafeto durante a campanha eleitoral.
O texto publicado no Instagram de Bebianno não cita Bolsonaro e é atribuído ao jovem escritor baiano Edgard Abbehusen: “Saímos de qualquer lugar com a cabeça erguida ao carregar no coração a lealdade”. E conclui: “O desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”. Na manhã de ontem, ao deixar o hotel onde mora em Brasília, Bebianno foi questionado sobre se a mensagem foi dirigida a Bolsonaro e afirmou que apenas “teve vontade” de postar: —Foi uma mensagem que eu tive vontade de publicar. Conceitual.
O ministro confirmou que recebeu do Planalto um convite para ocupar um cargo na estatal que gere a hidrelétrica de Itaipu e recusou. Segundo
A primeira crise. ele, a sinalização é para sua demissão. Mesmo assim, disse a jornalistas que quer “ver o papel com a exoneração” e ponderou que o presidente passou por uma cirurgia difícil, em que teve pouco contato com o mundo exterior. Por isso, segundo Bebianno, Bolsonaro precisa de um tempo para “botar na balança o que ele quer fazer”. —
Quando vocês perguntam (sobre exoneração), é o seguinte: eu quero ver o papel com a exoneração. A hora que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado — disse o ministro, acrescentando: — O presidente é um ser humano como outro qualquer, passou por cirurgia muito difícil, ficou duas semanas enfiado dentro de um hospital recebendo informações que muitas vezes não chegam de maneira correta. (...) Precisa de um tempo para ele depurar na cabeça dele o que aconteceu e botar na balança o que ele quer fazer, só isso. Simples assim.
Sobre o cargo em Itaipu, Bebianno disse que não aceitou porque não está no governo “para ganhar dinheiro” e “nem precisa de emprego”: —Meu projeto era eleger a pessoa que me inspirava confiança e eu achava que ia mudar os rumos do Brasil para melhor. Eu apostei nisso, investi a minha vida nisso e continuo acreditando.
Acho que o Brasil vai (mudar), o governo é ótimo. O ministro está no centro de denúncias sobre o repasse de verbas do PSL, dinheiro público, a uma candidata suspeita de ser laranja em Pernambuco, o que ele nega. Bebianno se recusou a comentar a atuação de Carlos Bolsonaro, que aumentou a crise no governo ao chamá-lo de mentiroso no Twitter, em uma mensagem republicada depois por Bolsonaro.
No post, Carlos diz que Bebianno não havia conversado com o pai, hospitalizado, nos dias mais tensos das denúncias, contradizendo declaração do ministro ao GLOBO , que afirmou manter contato com o chefe como forma de negar estremecimentos. O ministro também negou ter vazado conversas suas com Bolsonaro, o que vem sendo apontado por interlocutores do presidente como o motivo de agravamento da crise.
Bolsonaro teria ficado irritado com Bebianno após ver na imprensa transcrições de diálogos entre os dois. Bebianno disse que “não vai ficar batendo boca com ninguém” e que o reconhecimento de que não foi responsável pelo repasse suspeito de dinheiro do PSL, partido do presidente, a uma candidata laranja em Pernambuco é uma questão “de bom senso”.
Ele era o presidente da sigla: — Cada um acredite no que quiser. A minha consciência está tranquila, tratase de bom senso, trata-se da lei, do estatuto do partido. Bolsonaro passou o sábado no Palácio da Alvorada, sem falar com a imprensa. Ele teve reuniões com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
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