Paulo Celso Pereira | O Globo
O primeiro a atrapalhar foi Eduardo, dizendo que bastavam um soldado e um cabo para fechar o STF. Depois, foi a vez do primogênito Flávio protagonizar a crise, ainda aberta, envolvendo os repasses financeiros milionários de seu assessor Fabrício Queiroz. Ontem, com menos de 50 dias de mandato, o terceiro filho, Carlos, conseguiu atingir um objetivo antigo —seu desafeto Gustavo Bebianno deve deixar o governo nos próximos dias, como primeiro ministro defenestrado pelo pai.
Governos precisam de paz para trabalhar. Quem está no comando do Executivo tem problemas de sobra, como bem ressaltou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É por isso que tradicionalmente o Poder Executivo gasta energia para montar bases parlamentares amplas, impede a criação de CPIs, atua para minimizar conflitos internos. Bolsonaro chegou ao Planalto prometendo uma nova forma de fazer política. O que se viu em Brasília nesta semana foi, de fato, novo.
O imbróglio que levou à queda de Bebianno começou com a revelação pela “Folha de S.Paulo” de que uma candidata do PSL ligada ao presidente da legenda, Luciano Bivar, teria recebido R$ 400 mil e obtido apenas 274 votos. A suposta “candidata laranja” pouco tinha a ver com Bebianno, ainda que ele presidisse o partido durante a campanha e repassasse os recursos para os estados.
A crise poderia ter sido retirada do Palácio do Planalto com a simples justificativa, usada por Bebianno, de que sua tarefa era protocolar e que era responsabilidade do diretório pernambucano escolher as candidatas que receberiam recursos. Só que o mais recluso entre os filhos do presidente decidiu jogar gasolina no que era uma fagulha.
Após Bebianno tentar esvaziar a crise dizendo ao GLOBO que havia conversado três vezes com Bolsonaro, Carlos decidiu negar as conversas e divulgar um áudio do presidente. A fritura acabou por inviabilizar a permanência do ministro. Só que agora a movimentação do filho raivoso do presidente, que passa o dia a atacar adversários reais e imaginários nas redes sociais, terá consequências de gravidade ainda incerta.
No momento em que o governo se prepara para encaminhar ao Congresso sua proposta de reforma da Previdência, a pergunta em Brasília é: se Bebianno, que demonstrava lealdade canina a Bolsonaro muito antes de este chegar ao Planalto, saiu achincalhado, que tratamento devem esperar os neoaliados que se dispõem a apoiar o governo circunstancialmente?
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