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A crise fica
Se Gustavo Bebianno ficasse no governo seria porque Jair Bolsonaro teria se demitido de suas funções. Onde já se viu um presidente da República chamar de mentiroso um dos seus ministros e depois deixar tudo por isso mesmo, inclusive o ministro?
E Bebbiano não é qualquer ministro. É o secretário-geral da presidência da República. Tem gabinete no Palácio do Planalto, a poucos metros de distância do gabinete de Bolsonaro, e assento garantido nas reuniões diárias do presidente.
Como é possível que Bebianno, por mentiroso, não sirva para permanecer ministro, mas sirva para ser diretor de uma empresa estatal? Pois esse foi o prêmio de consolação que lhe foi oferecido. Se tiver juízo, Bebianno voltará ao escritório de advocacia onde trabalhava no Rio.
É fato que o governo está prestes a despachar para o Congresso a proposta da reforma da Previdência. E que o mercado e seus satélites, inclusive grande parte dos políticos, estão dispostos a tolerar todas as suas fraquezas desde que se consiga aprovar a reforma.
Mas não dá para seguir fingindo que tudo vai bem, que tudo parece normal, quando bem não vai, e de normal há quase nada ou muito pouco. Certa balbúrdia é compreensível em todo início de governo. Leva algum tempo para que se comece a conhecer e a dominar a máquina.
A balbúrdia seria maior no caso de um governo cuja maioria dos seus titulares nunca passou pela administração pública. São pessoas inexperientes, a começar do presidente. Não foram selecionadas levando-se em conta um projeto de governo porque faltava um.
Bolsonaro se surpreendeu ao pressentir que poderia se eleger. Seu plano era ser candidato para ajudar os filhos a se reelegerem. Depois, outra vez casado com uma mulher jovem, e pai de uma menina, iria desfrutar a vida com a gorda aposentadoria de quem fora deputado por 28 anos.
Aí veio a facada de Juiz de Fora. O louco do Adélio Bispo, que se sentia perseguido pela Maçonaria, quis matar Bolsonaro e acabou por empurrá-lo para o alto das pesquisas de intenção de voto. A vida tem desses imprevistos, e Bolsonaro soube dar a volta por cima.
Decorridos 47 dias desde a posse, seu governo mal está montado. Há vagas à beça a serem preenchidas, e falta quase tudo. Falta coordenação e também comando. De sobra, só amadorismo e desencontros. O principal responsável por isso é o presidente.
Uma vez, na segunda metade dos anos 80, o então senador Fernando Henrique Cardoso disse a propósito do presidente José Sarney que estava no exterior: “A crise viajou”. Sarney nunca o perdoou por essa e outras mais. De Bolsonaro, por ora, pode-se dizer que ele é a crise onde estiver.
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