Em discurso em Washington, presidente brasileiro menciona apoio americano para resolver crise no país vizinho
Beatriz Bulla, correspondente, e Ricardo Leopoldo, enviado especial/ O Estado de S.Paulo
WASHINGTON - Em discurso a empresários, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta segunda-feira críticas ao “antiamericanismo” de governos brasileiros anteriores e falou em reconhecer a “capacidade bélica” dos EUA para resolver a crise na Venezuela, sugerindo uma intervenção militar no país. Em seguida, o porta-voz do governo, general Otávio Rêgo Barros, minimizou a fala e disse que o “Brasil entende que a situação deve ser resolvida com diplomacia”.
“Temos alguns assuntos que estamos trabalhando em conjunto, reconhecendo a capacidade econômica, bélica dos EUA. Temos de resolver a questão da Venezuela. A Venezuela não pode continuar da maneira que se encontra, aquele povo tem de ser libertado. Contamos com apoio americano para que esse objetivo seja alcançado”, afirmou Bolsonaro, na Câmara de Comércio dos EUA.
Logo depois, questionado se o Brasil apoiaria uma eventual intervenção militar dos EUA na Venezuela, como Bolsonaro deu a entender, Rêgo Barros foi obrigado a esclarecer a declaração. “O Brasil entende que a situação da Venezuela deva ser resolvida com base na nossa diplomacia. Não trabalhamos com intervenção, até porque afronta nossa Carta Magna.”
A Venezuela enfrenta uma profunda crise política, econômica e social. Brasil e EUA estão entre os mais de 50 países que não reconhecem a legitimidade do governo do presidente chavista Nicolás Maduro e consideram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino do país.
Bolsonaro tem mostrado que está alinhado com o governo de Donald Trump sobre a Venezuela. No entanto, o vice-presidente Hamilton Mourão já afirmou que o País não trabalha com a hipótese de uma ação militar, enquanto Trump faz questão de deixar a possibilidade em aberto.
A Casa Branca conta agora com o trabalho dos militares brasileiros na interlocução com militares venezuelanos para aumentar a pressão sobre Nicolás Maduro. A mensagem de um funcionário do alto escalão dos EUA, um dia antes do encontro entre Bolsonaro e Trump. “Os militares brasileiros têm boa relação com os venezuelanos”, afirmou o funcionário. Segundo ele, a interlocução pode evitar a repressão a civis que se rebelem contra Maduro.
No discurso desta segunda-feira, Bolsonaro falou da parceria que quer estabelecer com os EUA e criticou governos anteriores do Brasil. “O povo se cansou da velha política e do péssimo exemplo dos governos do PT, materializados nas pessoas de Lula e Dilma, governos que eram antiamericanos.”
O presidente também disse que há dois anos vem sofrendo ataques das “fake news” e traçou um paralelo com o presidente dos EUA, Donald Trump, que aponta que vários meios de comunicação não realizam uma cobertura justa de seu governo nos EUA. “Queremos um Brasil Grande, assim como Trump quer uma América Grande”, afirmou Jair Bolsonaro. “O povo americano sempre foi inspirador para mim.”
Nesta terça-feira, Bolsonaro se reúne com Trump na Casa Branca. Além da questão venezuelana, os dois devem discutir a influência chinesa na América Latina, um tema sensível para os EUA. Há setores de ambos os governos que defendem um endurecimento na relação com o governo chinês, que é o principal parceiro comercial do Brasil.
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