Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - Presidente nacional do PSDB, ex-governador e ex-presidenciável, Geraldo Alckmin criticou a política externa do governo Jair Bolsonaro e disse que o presidente precisa superar o sectarismo. Ao falar sobre a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, Alckmin afirmou que o presidente deve defender os interesses do Brasil e não os de outros países, e disse que o país não pode brigar com a China, um dos principais parceiros comerciais brasileiros.
"Precisa ter foco no interesse nacional. Não pode brigar com a China, um dos maiores parceiros comerciais. O foco que precisa ter é no interesse do país, não no interesse de outros países", afirmou Alckmin a jornalistas, depois de participar de um evento promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), na capital paulista. Para o ex-governador, o comércio exterior vai ser uma "questão muito desafiadora" no atual governo, que defende uma aproximação com os EUA, em detrimento à parceria com a China. "Uma coisa é aumentar a exportação, o comércio exterior com o mundo crescendo 4% ao ano, o PIB mundial. Outra coisa é com a China desacelerando, a Europa desacelerando, a Argentina com problema", disse o tucano.
Uma ala do governo Bolsonaro defende a coordenação Brasil-Estados Unidos no setor agrícola, para se contrapor ao peso chinês. A relação comercial Brasil-China foi um dos temas do jantar de Bolsonaro nos Estados Unidos no domingo, na casa do embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral.
Alckmin afirmou que Bolsonaro deveria "se inspirar" no ex-presidente Juscelino Kubitschek e disse que seu principal adversário nas últimas eleições precisa "ouvir mais". "É hora de diminuir o sectarismo, diminuir o radicalismo; [é hora] de união. Vamos procurar unir aquilo que é mais importante, ter uma inspiração mais agregadora. Não pode viver nesse ódio, nesse radicalismo de nós contra eles. Isso lembra o PT, mas às avessas", disse. "Não é razoável ser intolerante com a crítica. A crítica constrói, aperfeiçoa, evita o erro."
Alckmin defendeu a reforma da Previdência apresentada pelo governo e disse que o PSDB deve votar favoravelmente à proposta, mas ponderou que há questões que precisam ser rediscutidas, como mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a PEC da Bengala. "O projeto enviado pelo governo é complexo e tem de tudo, até jabuti. Quer acabar com a PEC da Bengala. O governo quer nomear ministros do STF [Supremo Tribunal Federal]. Tudo bem, mas não pode pôr isso na reforma da Previdência."
Ao falar sobre as mudanças no BPC, Alckmin disse que a proposta "não se sustenta juridicamente e deve ser revista". No texto enviado pelo governo, o trabalhador miserável passa a receber um salário mínimo (R$ 998) a partir dos 70 anos, e não a partir dos 65 anos, como é atualmente. Na proposta de Bolsonaro, esse trabalhador receberá menos da metade do salário mínimo, R$ 400, a partir dos 60 anos.
O ex-governador afirmou que as mudanças nas regras do setor público são fundamentais e que atualmente o sistema previdenciário no país é um "Robin Hood às avessas": "O trabalhador pobre paga os altos salários do setor público." Na ADVB, o ex-governador defendeu um sistema único de aposentadoria para o país. "A questão do setor público é absolutamente importante."
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