Reunião atual do Copom tem bases no comportamento da economia para retomar a redução das taxas
O perfil dos Bancos Centrais mais respeitados é tender ao conservadorismo na hora de estimular a economia com o corte de juros e ao ativismo à primeira ameaça da volta da inflação.
Ou seja, lento no estímulo, e mais ativo aos primeiros sinais de aquecimento, ao puxar as rédeas do crescimento do PIB, para não estimular, via consumo, a elevação dos preços.
Porém, há momentos de exceção em que a postura conservadora precisa ser flexibilizada. Caso de agora, em que a economia, depois da queda no precipício da grande recessão no biênio 2015/16, de mais de 7%, demonstra preocupante dificuldade em retomar o crescimento em bases minimamente razoáveis. Há dois anos, o país patina numa quase estagnação ao evoluir apenas 1% em cada período.
O BC, nos textos do seu Comitê de Política Monetária (Copom), costuma, com razão, alertar para a necessidade da aprovação de uma reforma da Previdência consistente —, dentro da acertada preocupação com a questão fiscal. O que significa alcançar a economia de R$ 1 trilhão em dez anos, objetivo fixado pela proposta do Ministério da Economia a ser encaminhada ao Congresso. Enquanto isso, entende o Copom, é melhor esperar a evolução dos fatos no front político.
Mas, mesmo no campo político, o cenário começa a ficar mais claro. E no momento em que estreia à frente do BC o economista Roberto Campos Neto, cujo avô, um símbolo do liberalismo, que presidiu o BNDE, banco público que ajudou a fundar no segundo governo Vargas. Quer dizer, não se apegava a dogmas.
Um país que já padeceu de hiperinflação e passou por experiências heterodoxas como a patrocinada no ciclo lulopetista pela presidente Dilma, ao baixar os juros na base da “vontade política”, ação desastrosa, termina tendendo mesmo ao conservadorismo monetário.
A gestão de Ilan Goldfajn, no BC do governo Temer, foi de grande mérito. Sem bravatas, quebrou a espinha das expectativas pessimistas e trouxe a taxa básica de juros (Selic) de 14,25%, posição em junho de 2016, quando assumiu, para 6,5%, em março do ano passado, a mais baixa taxa da série histórica da Selic. Um feito, sem dúvida.
Pode-se entender que a melhor postura do Copom num ano eleitoral seria manter este nível de juros, diante das incertezas reinantes em 2018.
Mas, neste início do novo governo, mesmo ainda com a falta de definição da reforma da Previdência — mas com razoáveis perspectivas —, há vários indicadores que estimulam um novo corte nos juros na reunião do Copom de hoje e amanhã.
Ainda há 12 milhões de desempregados, e o fato de a indústria ter retrocedido em janeiro 0,8% e a prévia do PIB, calculada pelo BC para o mesmo mês, indicar uma queda de 0,41%, confirmam a persistência da debilidade do setor produtivo, enquanto as projeções do mercado financeiro para a inflação (relatório Focus) deste ano, de 3,89%, continuam abaixo da meta de 4,25%.
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