Retomada dos trabalhos legislativos exigirá empenho de Bolsonaro na organização de sua base de apoio
Com o fim do Carnaval e a retomada das atividades do Congresso, a falta de traquejo do governo Jair Bolsonaro (PSL) para lidar com o Legislativo se tornou fonte de ansiedade para políticos e investidores.
Passados dois meses desde a posse, o presidente ainda não tem uma base de apoio partidário comprometida com sua agenda e foi incapaz de desenvolver uma estratégia convincente para organizá-la.
Nos próximos dias, com a instalação das comissões que fazem o processo legislativo andar na Câmara dos Deputados, essa fragilidade tende a se tornar mais visível.
Líderes partidários dispostos a apoiar Bolsonaro ameaçam fazer corpo mole enquanto não receberem do Palácio do Planalto sinais mais claros de que suas reivindicações por cargos e verbas oficiais serão atendidas em algum momento.
Dependerá dessas comissões o ritmo a ser imprimido à discussão da proposta de reforma da Previdência, essencial para recuperar o equilíbrio financeiro do Tesouro Nacional e a economia.
O presidente prometeu governar sem ceder a barganhas como as que foram repudiadas na campanha eleitoral —e montou seu ministério sem fazer concessões aos caciques das maiores legendas.
Mas não há regime democrático que funcione sem negociações desse tipo, e no mundo inteiro governos em busca de apoio parlamentar oferecem como moeda de troca participação em decisões e influência na aplicação de seus recursos.
Decerto o ambiente encontrado pelo presidente é desafiador. Siglas tradicionais foram destroçadas nas urnas e um número recorde de partidos pouco representativos ganhou lugar no Congresso, multiplicando os atores com votos para sentar à mesa de negociações.
Lidar com esse tipo de situação, porém, é parte das atribuições do chefe do Executivo, e cabe a Bolsonaro desenvolver as habilidades necessárias para estabelecer um diálogo produtivo com o Congresso.
Políticos dispostos a colaborar com o presidente estão no comando da Câmara e do Senado, mas sua boa vontade não é suficiente para garantir acordos com os partidos sem a chancela do presidente.
O aprendizado de Bolsonaro tem sido penoso. Em fevereiro, a Câmara deu uma amostra de sua disposição ao derrubar o polêmico decretoque modificara regras para classificação de documentos sigilosos.
Ao levar o assunto ao plenário, os partidos ignoraram apelos do líder do governo na Câmara, um deputado que acaba de assumir o primeiro mandato e só foi alçado ao posto por ser amigo de Bolsonaro.
Os riscos serão maiores com a reforma da Previdência, que contraria setores com força no Parlamento.
Evitar novos dissabores exigirá não só a competência dos articuladores do Planalto, mas a insubstituível liderança do presidente.
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