Sem fazer menção aos comentários do presidente, instituto divulga nota sobre como é feita a pesquisa de emprego
Gabriel Martins e Daiane Costa / O Globo
Economistas lamentaram as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre as estatísticas de emprego do IBGE. Anteontem, em entrevista em Israel, Bolsonaro afirmou que os números do IBGE “parecem índices feitos para enganar a população” e criticou a metodologia da pesquisa. Para especialistas, as declarações podem dar a impressão de que o governo quer interferir nos dados.
Os economistas afirmam que a metodologia do IBGE é abrangente, consistente e relevante para a realização de políticas públicas.
— Dizer que uma pesquisa quer enganar a população é muito ruim, isso pode dar a impressão de que o governo quer interferir nos dados — avalia Simon Schwartzman, que presidiu o IBGE de 1994 a 1998. — As instituições de pesquisa têm de ter seu trabalho reconhecido e sem interferência política. O presidente tem o direito de pedir explicações a respeito de como as pesquisas são elaboradas, mas não deveria criticá-las desta maneira. Isso faz mal para o país.
O economista Cláudio Considera, pesquisador da FGV e ex-chefe de Contas Nacional do IBGE, destaca que o instituto é reconhecido internacionalmente, e as bases da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que investiga as condições do mercado de trabalho) seguem recomendações da Organização internacional do Trabalho (OIT):
— A Pnad é uma das melhores estatísticas porque abrange toda a questão do mercado de trabalho, desde os trabalhadores de empresas com carteira assinada até aqueles que trabalham na informalidade — explicou Considera.
Sem citar as declarações do presidente, o IBGE divulgou nota técnica sobre como é feita a pesquisa, destacou que ela segue padrões internacionais e se colocou à disposição do “governo e dos cidadãos para esclarecimentos a respeito do seu trabalho”.
O levantamento é feito a partir de uma amostra com mais de 210 mil domicílios, em 3.500 municípios. A amostra é visitada a cada trimestre por 2 mil agentes de pesquisa.
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