Para Sergio Fausto, superintendente do Fundação FHC, presidente estigmatiza a relação com o Congresso
Flavia Lima / Folha de Paulo
SÃO PAULO - Cientistas políticos criticaram nesta terça-feira (2) o desejo do mercado financeiro de ver o ministro da Economia, Paulo Guedes, à frente das negociações da reforma da Previdência com o Congresso.
A uma plateia formada basicamente por economistas, analistas e operadores do mercado, em evento organizado pelo Bradesco, o cientista político Luciano Dias disse que colocar Paulo Guedes na linha de frente da negociação com o Congresso é equivalente ao que ocorre nos filmes com o “mexicano no saloon” porque “ele vai ser o primeiro a levar tiro”.
Sergio Fausto, superintendente do Fundação FHC, afirmou ser improvável que Guedes ganhe vida própria no governo, se tornando um foco independente de poder porque, no regime democrático, o palco de negociação é o Congresso Nacional.
“Isso é sonho de uma noite de outono [do mercado financeiro]", afirmou Fausto, num trocadilho que faz alusão à peça Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, uma comédia em que os personagens vivem em devaneios.
Para Fausto, o custo de interação do governo com o Congresso é elevado porque o presidente Jair Bolsonaro estigmatizou essa relação.
Dias, que está à frente da CAC Consultoria disse que, ao se olhar apenas para a formação do governo, a perspectiva é de não aprovar reforma nenhuma. Ele não duvida, no entanto, que o governo Bolsonaro se dobre ao presidencialismo de coalização.
“O Congresso está jogando pelo manual, pelo que é razoável e racional. Falta Bolsonaro se adaptar a essa realidade e é isso que vai determinar o sucesso das reformas nos próximos dias", disse Dias.
Para Dias, formar coalizações políticas é básico e necessário e o discurso de Bolsonaro, que privilegia o patriotismo ou o amor à nação, não é suficiente. “Se patriotismo fosse um fator, militares não estariam contribuindo só com 7% da reforma da Previdência”, disse.
Segundo Dias, o país está amarrado a uma certa armadilha de baixo crescimento, o que significa que a taxa de popularidade do presidente tem viés de baixa. Uma possível saída para o imbróglio, disse ele, será formar uma coalização de "notáveis", com burocratas ligados a partidos.
Sergio Fausto afirmou que é "preciso ser politicamente muito incompetente para não aprovar uma reforma em meio à fraqueza da oposição e dos sindicatos e num cenário em que governadores, municípios e parte do Congresso se colocam a favor dela.
“Bolsonaro é incompetente do ponto de vista político e me parece muito limitado do ponto de vista intelectual. Uma pessoa que tem enorme dificuldade de compreensão da realidade", disse.
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