Chefe da bancada repreende líderes do governo no Congresso após senador postar ‘Quero que vocês se explodam’ em reação a nota do Hamas sobre visita a Israel; Mourão tenta minimizar repercussão no mundo árabe
Bruno Góes, Eliane Oliveira e Jussara Soares / O Globo
BRASÍLIA - Ríspido e com poucas palavras, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), repreendeu ontem os líderes do governo no Congresso e na Câmara, Joice Hasselmann(PSL -SP) e Vitor Hugo( PSL- GO ). No cafezinho da Câmara, ao passar pelos dois, Moreira demonstrou sua revolta com uma mensagem nas redes sociais postada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Flávio escreveu “Quero que vocês se explodam”, em resposta à nota de repúdio do movimento islâmico Hamas à abertura de um escritório de negócios pelo governo brasileiro em Jerusalém.
— Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais! Acabou a paciência! —disse Moreira, ao citar a mensagem do senador.
Joice e Vitor Hugo ainda tentaram acalmar o líder da frente ruralista, mas ele saiu em disparada. Desde que Bolsonaro prometeu mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a Frente Parlamentar da Agropecuária negocia um recuo do Planalto. Na viagem a Israel, Bolsonaro decidiu abrir apenas um escritório de negócios em Jerusalém.
A preocupação do setor é com uma possível retaliação de países árabes à exportação de carne brasileira. O Brasil é hoje o maior exportador global de proteína halal —preparada de acordo com as tradições islâmicas. O mercado consumidor do produto reúne 1,8 bilhão de muçulmanos.
No tuíte, apagado no início da noite, Flávio reproduziu a reportagem da revista Exame sobre a nota do Hamas, que controla a Faixa de Gaza e é classificado como terrorista por Israel e EUA. No texto, o grupo critica não só a abertura do escritório, como a ida de Bolsonaro ao Muro das Lamentações, em área considerada território ocupado, sem uma coordenação com autoridades palestinas.
Flávio acompanhou o pai na viagem a Israel. Como senador, foi ao país representando a bancada da segurança pública na Casa. À noite, a publicação não podia mais ser encontrada no Twitter.
Procurado, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse que não comentaria a postagem. A Autoridade Nacional Palestina havia convidado o presidente a visitar os territórios palestinos, mas Bolsonaro preferiu dedicar sua agenda exclusivamente a Israel.
O presidente em exercício Hamilton Mourão tentou minimizar a repercussão no mundo árabe da viagem, bem como a provocação do senador no Twitter.
— Não estou vendo reação do mundo árabe. Eu vi uma reação pontual do Hamas, que detém parte do poder da Autoridade Palestina, e é óbvio que cada um tem sua opinião a respeito —disse Mourão.
Questionado se o novo posicionamento não prejudica a postura diplomática do Brasil, Mourão pediu para “aguardar a evolução” dos fatos. Ele citou que a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém era “mais uma promessa de campanha” de Bolsonaro.
—Por enquanto, é uma intenção. A própria ministra da Agricultura (Tereza Cristina) deu depoimento que isso poderia ser um desconforto. Vamos esperar para ter uma visão mais correta.
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