Para associações do setor, interferência direta do Planalto nas ações comerciais de estatais prejudicaria concorrência com empresas privadas e afetaria liberdade dos profissionais da área
Tiago Aguiar / O Globo
Empresas e associações do mercado publicitário reagiram com preocupação à possibilidade de o Palácio do Planalto, por meio da Secretaria de Comunicação Social (Secom), passar a controlar toda a publicidade das empresas estatais, inclusive as chamadas ações “mercadológicas”, em que há apenas disputa de mercado, e não posicionamentos institucionais do governo.
A decisão de passar toda a publicidade estatal pelo crivo do Planalto foi anunciada pelo secretário de publicidade da Secom, Glen Valente, na última quarta-feira. Na noite de ontem, porém, o próprio Planalto admitiu que a ordem viola a Lei das Estatais, que protege a autonomia de empresas como o próprio Banco do Brasil. A interferência direta do governo na publicidade das estatais poderia ainda reduzir o poder de concorrência com o setor privado e limitara criatividade dos publicitários, argumentam críticos da ideia. Ênio Vergeiro, presidente da Associação dos Profissionais de Propaganda (APP), considerou “péssima” a decisão de submeter cada material de publicidade à Secom.
— Esses profissionais que estão na Secom não são habilitados e qualificados para poder dar qualquer tipo de crivo em campanhas mercadológicas. Empresas como Petrobras e Banco do Brasil são estatais, mas concorrem com a iniciativa privada — afirmou Vergeiro. Lucas Mello, CEO da agência Live, avalia que o trabalho das agências que atendem as estatais podem sofrer impacto em seu direcionamento criativo. Ele acredita que as agências receberão os briefings de uma maneira que evite a propagação da diversidade e da representatividade cultural.
— Se houver uma interferência maior do Planalto, a tendência é que (a publicidade) assuma um viés mais conservador nos costumes, alinhado com a pauta do governo. (*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire).
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