- O Globo
Moro deveria ser o principal interessado em esclarecer o caso, que pôs em xeque sua conduta na Lava-Jato. No entanto, ele se apressou a dizer que os diálogos seriam destruídos
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima se tornou um dos rostos mais conhecidos da Lava-Jato. Numa entrevista recente, ele disse não ter dúvidas
sobre o vazamento de diálogos da operação.
“O ataque foi centralizado, altamente sofisticado, com um custo que ultrapassa em muito a capacidade financeira e tecnológica de meros hackers amadores em porões na casa da mamãe”, afirmou, ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Em tom assertivo, o procurador recém-aposentado disse que a captação e a divulgação do material “obedeceram comando único, dotado de um orçamento milionário e possivelmente com recursos tecnológicos de fora do país”. Ele acrescentou que a ação teria um objetivo claro: “libertar Lula e destruir Sergio Moro”.
Pelo que se sabe até agora, os fatos são um pouco diferentes da tese de Santos Lima. Apesar de fontes oficiais terem espalhado suspeitas contra hackers de Moscou, os quatro presos viviam em Araraquara. Três deles já tinham passagens por crimes como estelionato e clonagem de cartões de crédito.
Parecem menos próximos do Kremlin do que do porão da mamãe. Pelo que afirma a Polícia Federal, a quadrilha teria invadido contas de mais de mil usuários do Telegram, incluindo autoridades dos três Poderes. Isso também não combina com a tese de uma ação dirigida contra Moro e a Lava-Jato.
No Twitter, o ministro da Justiça voltou a se referir a “supostas mensagens obtidas por crime”. Desde o caso veio à tona, ele contesta a autenticidade dos diálogos de forma genérica, sem dizer o que seria falso ou verdadeiro. Se a PF copiou todos os arquivos dos hackers, é possível tirar a prova. Basta querer.
Moro deveria ser o principal interessado em esclarecer o caso, que pôs em xeque a sua conduta nos processos da Lava-Jato. No entanto, ele se apressou a dizer que os diálogos seriam imediatamente descartados — segundo disse o presidente do STJ, “para não devassar a intimidade de ninguém”. O ex-juiz teve que ser lembrado de que isso não depende da sua vontade. As provas só podem ser destruídas por ordem judicial.
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