Por Malu Delgado, Cristiane Agostine e Hugo Passarelli | De Embu das Artes (SP) e São Paulo / Valor Econômico
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República é produto de erros acumulados desde 1988, quando foi feita a Constituição.
"A pergunta é onde erramos. Bolsonaro é produto dos nossos erros. Era um deputado sem partido, escanteado pelas elites, pelos meios de comunicação, pelas elites militares, por todos, e aí em 2013 ele vai e pega um movimento de rua, pega valores muito conservadores, e é o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro", disse Maia, em evento promovido pela Fundação Lemann para debater o desenvolvimento do Brasil.
"Todo esse ciclo, que veio da Constituição, gerou o presidente Bolsonaro", enfatizou Maia. Ao longo de 30 anos, segundo o deputado, os políticos erraram ao permitir que "99% do orçamento público fosse capturado por corporações públicas e privadas".
"Nós falimos o Estado brasileiro e temos que reconstruí-lo", disse Maia, enfatizando que benesses foram distribuídas a segmentos públicos e privados nesta construção de país.
O presidente da Câmara disse que é claro seu apoio à agenda de Paulo Guedes, ministro da economia, mas afirmou que não concorda com a agenda de valores de Bolsonaro. Ele mencionou, pela primeira vez, o episódio de Bolsonaro que colocou em dúvida a ação da ditadura no assassinato de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB. "Eu sei o que a minha avó passou para não deixar meu pai morrer". O deputado, nasceu no Chile, em 1970, em função do exílio do pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia.
Maia criticou radicalismos da direita e da esquerda e pregou a importância do papel das instituições para conter excessos entre os poderes. Descartou a possibilidade de impeachment de Bolsonaro. "É isso que temos até 2022. É ele o presidente eleito. Cabe ao Judiciário e ao Legislativo, naquilo que entender que ele passe do limite, gerar o limite."
Em outro evento ainda ontem, promovido pelo banco BTG, Maia disse que o governo não tem base de apoio no Congresso. Ele afirmou que tem sido o responsável pela articulação de votações importantes, como a da Previdência, e ponderou que não pode atuar como líder do governo no Legislativo. O presidente da Câmara disse ainda que o radicalismo do discurso de Bolsonaro assusta parlamentares.
"Eu não consigo ser líder do governo todo dia. Tenho que focar em alguma coisa. Não consigo jogar em todas as posições", afirmou. "Eu preciso de ajuda. Eu fico de cima do plenário, na tribuna, organizando votação, organizando deputado que não votou, chamando, ligando", disse. "Se eu tiver uma base, facilita minha vida. O governo não tem base. Quem construiu as bases fomos nós e, hoje, temos uma boa relação com o governo. Mas não é a base do governo. O governo tem 50, 80 deputados. E tem boa influência na bancada evangélica, na bancada da bala. É isso o que o governo tem hoje", afirmou Maia a uma plateia de investidores.
O "radicalismo" de Bolsonaro, disse o presidente da Câmara, atrapalha a votação de temas importantes para o governo. "O radicalismo do discurso dele, na vocalização mais dura, assusta parte dos parlamentares que, olhando com cuidado os temas, poderia até colaborar. Esse é um problema que se tem", afirmou. "Ele vocaliza de um jeito que assusta".
Maia criticou também o chamado "pacote anticrime" articulado pelo ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e enviado por Bolsonaro ao Congresso e disse que a maioria dos parlamentares avalia que os projetos não devem ser aprovados.
O deputado apontou problemas nos projetos de Moro, como "misturar os crimes de colarinho branco com crime organizado" e tratar da prisão depois da condenação em segunda instância, tema que será debatido pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo o presidente da Câmara, Bolsonaro deveria elaborar um projeto "mais forte para a segurança pública", com uma proposta de reforma geral do sistema prisional, por exemplo.
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