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De trunfo a fardo
Por ora, o presidente Jair Bolsonaro ainda o defende. Ou finge fazê-lo. Não faz tanto tempo assim que o rude capitão, refém dos seus instintos mais primitivos, admitiu sentir um grande prazer em fornecer corda para que auxiliares incômodos se enforquem.
Ainda não procede assim com o ministro Sérgio Moro, da Justiça. Mas se ele, por qualquer razão, decidisse pedir as contas e largar o emprego, já não faria tanta falta ao governo. Bolsonaro prestaria as homenagens de praxe e tocaria em frente.
Moro desgastou-se com a publicação de seus diálogos com procuradores da Lava Jato. Ficou provado que ele se comportou como juiz e assistente de acusação no processo que condenou Lula a 12 anos de cadeia, pena recentemente reduzida a 8 anos.
Desgastou-se em seguida com o caso dos hackers da República de Araraquara porque anunciou que eles haviam invadido mais de mil celulares, entre eles o de Bolsonaro. Não satisfeito, ainda ligou para alguns dos hackeados e ameaçou destruir provas do inquérito.
Bolsonaro topa qualquer briga como já demonstrou, e não sabe viver sem uma. Mas tudo o que ele não quer neste momento é briga com o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, a quem só se refere como “gente nossa”.
Tem razão para isso. Foi Toffoli que suspendeu as investigações sobre os rolos fiscais do senador Flávio Bolsonaro e do ex-motorista Fabrício Queiroz. E daí? Daí que a decisão de Toffoli foi criticada pelo presidente do COAF, homem de confiança de Moro.
De resto, o pacote de leis anticrime despachado por Moro para o Congresso, uma das joias da coroa do governo Bolsonaro, emperrou por lá e enfrenta a má vontade de deputados e senadores com o ex-juiz, visto por eles como o algoz dos políticos.
Pouco a pouco, antes considerado um trunfo precioso, Moro começa a ser avaliado como um fardo por Bolsonaro e sua trupe, nela naturalmente incluída os filhos. Um fardo que ainda é possível carregar, mas que amanhã poderá deixar de ser.
Cresce em Bolsonaro o sentimento de que pode tudo. Enquadrou a ala militar do seu governo. Derrubou o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Declarou guerra à imprensa. Nomeará para a Procuradoria Geral da República quem quiser.
Moro? Moro que se cuide, mas não somente ele.
Deltan por um fio
Balança e deve cair
Vale nada, quase nada, a situação de Deltan Dallagnol como chefe do esquadrão de procuradores da Lava Jato em Curitiba depois da nova fornada de diálogos travados por ele seus colegas e publicados, ontem, pelo jornal El País em parceria com o site The Intercept.
Ministro do Supremo Tribunal Federal só pode ser investigado pela Procuradoria Geral da República, e mesmo assim mediante autorização do tribunal. Os diálogos escancaram a trama urdida por Dallagnol para investigar os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Batom na cueca. Ou bala de prata na cabecinha de Dallagnol e dos seus cúmplices. Parece remota a possibilidade de o Ministério Público Federal ter a desfaçatez de ignorar o que provocou a indignação dos companheiros de Gilmar e de Toffoli.
A munição ainda a ser disparada contra Dallagnol e sua turma está longe de se esgotar.
Dodge sela seu destino
Fora do páreo
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, surpreendeu seus próprios colegas ao votar, ontem, contra a indicação feita pelo governo Bolsonaro do procurador da República Ailton Benedito para a Comissão de Mortos e Desaparecidos.
As perguntas que muitos dos seus colegas se faziam ontem eram as seguintes: ela votou assim por que se convenceu de que não será mais reconduzida ao cargo? Ou votou assim para se fortalecer entre os colegas e reforçar suas chances de ser reconduzida?
A primeira pergunta faz mais sentido. Ailton Benedito é um bolsonarista de raiz. O presidente da República sentiu-se afrontado com a rejeição do seu nome. Dodge sabe que está fora do páreo. Melhor ficar de bem com seus colegas e retocar a biografia.
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