- O Globo
Assim como Merval, acho que Bolsonaro não dispõe de superego, ou seja, não tem autocrítica ou o que, em bom português, se chama de desconfiômetro. Ego ele tem até avantajado; alter ego, pelo menos três, os filhos políticos; mas no seu sistema psíquico inexiste aquela instância que Freud classificou como a responsável por reprimir ou domar os instintos primitivos.
Nenhum medo do ridículo, nem pudor das incongruências. Ele mente até quando tenta desmentir, como faz com fatos históricos como o golpe de 64 (ora afirma que não houve, ora que devia ter matado, em vez de torturar). “Não estou preocupado com críticas, tá okey?”, ele já disse. O presidente não dispõe de uma voz interior para advertir baixinho: “Não fala isso que é besteira”. Ele reage aos fatos por reflexo, não por reflexão, automaticamente, como se estivesse batendo continência. Não pensa antes de falar.
Daí a frequência com que é obrigado a voltar atrás, e muitas vezes voltar atrás de voltar atrás. Quando há meses escrevi que ele sofre de incontinência verbal, houve protestos como se fosse um absurdo.
Há quem ache que existe lógica nas maluquices. Desconfio que não, e nem só porque ele disse à repórter Jussara Soares: “Eu sou assim mesmo, não tem estratégia”. Respeito os que defendem a hipótese, mas que tática é essa que lhe faz perder popularidade? Desde Collor, Bolsonaro é o presidente que teve o pior índice de aprovação nesses 200 e poucos dias de governo — período que em geral é considerado de lua de mel.
O jurista Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, é taxativo: acha que agora é caso de “interdição” (...) “estamos diante de um quadro de insanidade dos mais absolutos”. Recomenda, inclusive, reunir uma junta médica.
Qualquer que seja o resultado da discussão, não é edificante para o país saber se o presidente da República age assim por premeditação ou espontaneamente, devido ao seu modo tosco de ser.
Se aceita a sugestão da “junta médica”, não esquecer o psicanalista.
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