- O Globo
Bolsonaro conseguiu se tornar o grande porta-voz do movimento “soberanista” (...) Segundo Trump, os soberanistas vencerão
No palco do plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu se tornar o grande porta-voz do movimento “soberanista”, como se autodenomina esta nova vertente da direita internacional. Seriam os patriotas contra os globalistas, como disse um sonolento Donald Trump minutos após o brasileiro.
Questionam as mudanças climáticas ao adotarem uma postura anti-ciência. Pouco se preocupam com os direitos humanos e de minorias. Atacam a mídia. Condenam as ditaduras de Cuba, Venezuela e Irã, mas ignoram as atrocidades da Arábia Saudita, que tem apartheid contra as mulheres e xiitas, proíbe o judaísmo e cristianismo, esquarteja jornalistas, bombardeia o Iêmen e apoia jihadistas. Afirmam defender o Ocidente, mas se opõem às nações europeias ocidentais, como a França e a Alemanha.
Seus reais adversários não estão em Havana, Teerã e Caracas. São, na realidade, os liberais democratas ocidentais como Macron, Trudeau e Obama. Basicamente, o movimento se posiciona contra o novo Ocidente e celebra um imaginário ou ultrapassado.
Os soberanistas repudiam a agenda multilateralista destes líderes europeus e dos democratas americanos. Buscam associar este liberalismo político ao comunismo cubano e ao regime cleptocrático da Venezuela quando não há nada em comum entre o presidente francês e o ditador venezuelano. Também afirmam que a mídia e mesmo alguns empresários e banqueiros integram esta “conspiração esquerdistas”.
O objetivo deste movimento, muitas vezes atribuído ao charlatão Steve Bannon, com quem Eduardo Bolsonaro jantou mais uma vez em Nova York, é redesenhar o Ocidente com um viés mais direitista. Não da direita conservadora, mas desta nova direita populista e até mesmo extremista como vemos na Hungria.
Este novo movimento da direita populista segue forte com Modi na Índia, Erdogan na Turquia, Orbán na Hungria, Sissi no Egito e o Partido Lei e Justiça na Polônia. Sofreu reveses na Itália, com a fracassada articulação de Salvini para derrubar o governo e convocar eleições, e em Israel, onde Netanyahu corre o risco de não apenas perder o cargo para Benny Gantz como também de ser preso por corrupção.
Bolsonaro, porém, segue firme no poder no Brasil, apesar da queda de popularidade. Mais importante, o presidente brasileiro seria o mais genuíno defensor deste novo "movimento" de direita. Um verdadeiro purista. Acredita no que fala, diferentemente de alguns outros líderes de seu grupo e mesmo de membros de seu governo. Nas Nações Unidas, certamente alcançou o claro objetivo de se transformar em um símbolo desta nova direita soberanista, que, para alguns, é antiga, dos anos 1930. Ao mesmo tempo, será cada vez mais identificado como adversário pelos liberais democratas europeus e americanos e os defensores do meio-ambiente e do multilateralismo.
De acordo com Trump, os “patriotas”, ou soberanistas, vencerão. O grande embate será nas eleições americanas do ano que vem. Caso o presidente americano conquiste a reeleição, a chance de reestruturação do Ocidente ganhará força e Bolsonaro será impulsionado. Se perder, o presidente brasileiro ficará ainda mais isolado, especialmente no Ocidente. Depois de Salvini e possivelmente Macri e Netanyahu, sobrará apenas ele.
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