- Folha de S. Paulo
Bolsonaro continua insistindo em não seguir o roteiro da normalidade
Jair Bolsonaro foi eleito presidente porque não era um candidato normal. Ele despontou como uma figura antiestablishment num instante em que a população se rebelava contra o "statu quo".
Ao sagrar-se vitorioso, Bolsonaro superou os filtros de um sistema desenhado para afastar candidaturas como a sua. Afinal, não é todo dia que um representante do baixo clero da Câmara, famoso por insultar as pessoas e defender teses chocantes, sem estrutura partidária nem tempo de TV consegue ir para o segundo turno e derrotar um oponente menos destoante do "mainstream" da política.
Na Presidência, Bolsonaro continua insistindo em não seguir o roteiro da normalidade. Ele não apenas não se preocupou em montar uma coalizão parlamentar que dê sustentação a seu governo como também parece muito pouco empenhado em aprovar medidas que poderiam contribuir para que sua administração tenha êxito.
De modo ainda mais surreal, o presidente e seu núcleo íntimo se tornaram o principal polo gerador de crises, muitas delas gratuitas, como foi o caso da guerra intestina aberta com a direção do PSL.
Há aí uma boa notícia. Talvez o cabo e o soldado sejam mais competentes, mas, quando o capitão e o major decidiram tentar um golpe para assumir o partido, fracassaram na primeira investida. E o adversário não é um Tancredo Neves ou outro gênio dos conchavos, mas Luciano Bivar, cuja estatura política fala por si só.
Em condições normais, a vantagem de que gozam os candidatos que já ocupam o cargo é tamanha que bastaria a Bolsonaro obter um crescimento da ordem de 2% em 2022 para se reeleger. Mas, como ele não é nem um candidato nem um presidente normal, não sabemos se as regras da normalidade se aplicarão.
As eleições municipais podem dar uma pista do humor do eleitorado, mas não de como ele interagirá com a singularidade bolsonariana.
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